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A morte de Deolinda Rodrigues e o ódio exacerbado a Holden Roberto

Paulo Sérgio por Paulo Sérgio
26 de Setembro, 2025
Em Opinião
Tempo de Leitura: 5 mins de leitura
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Conacri foi a porta de entrada de Deolinda Rodrigues no seu regresso ao continente africano, em Janeiro de 1962, graças à ajuda do embaixador Boubacar Diallo Telli, então representante da Guiné na ONU.

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De lá, seguiu para Acra, capital do Gana, e posteriormente para Léopoldville, no Congo, onde reencontraria os companheiros de luta. Depois das peripécias em Portugal, Brasil, Estados Unidos e uma breve passagem pela Holanda (Amesterdão), Deolinda respirava agora um ambiente que lhe transmitia maior confiança na vitória contra o colonialismo. Esse sentimento era reforçado pela libertação de Agostinho Neto, que trabalhava para criar uma frente militar capaz de unir guerrilheiros da UPA e do MPLA. Essa iniciativa atraía guerrilheiros da UPA para se unirem a Neto.

Numa carta dirigida ao seu “confidente” Jacinto Fortunato (a quem tratava pelo cognome de Kanhamena), datada de 06 de Agosto de 1962, Deolinda escreveu: “A saída dele [Neto] foi uma bomba e grande derrota para os nossos carrascos: uma vitória incalculável para todos nós.”

Mas o entusiasmo não escondia as divisões. Para a jovem militante, a iniciativa de Neto estava condenada a esbarrar em líderes que, radicados no Congo há anos, viviam o nacionalismo e faziam política à moda local.

Em vez de se concentrarem na luta do povo angolano, estavam mergulhados em ambições pessoais e disputas regionais, raciais e religiosas. Contrariamente à posição assumida pelas pessoas que se viram obrigadas a abandonar Angola por conta do conflito armado.

No mesmo ano, Deolinda integrou a secretaria do Corpo Voluntário Angolano de Assistência aos Refugiados (CVAAR), onde reforçou os contactos com conterrâneos ansiosos por uma nova etapa da luta.

Num desabafo a Fortunato, foi categórica: “Quando a luta organizada e nacional começar mesmo… os portugas vão sofrer terrivelmente.” O diário, o seu confidente habitual, foi deixado de lado à chegada a Léopoldville, em Março de 1962, sendo retomado apenas no dia 28 do mesmo mês (mas do ano seguinte) para registar o balanço de um ano de exílio: dificuldades para o movimento, mas também aprendizagem política.

Deolinda considerava que o MPLA tinha chefes em demasia, o que gerava conflitos internos e descontentamento entre militantes. Nesse mesmo ano, foi informada por Lúcio Lara da morte do irmão, Pedro Francisco de Almeida Sobrinho, estudante que fugira de Portugal para a França.

A notícia deixou-a profundamente abalada e incapaz de participar na reunião do Comité Director do MPLA que se realizava naquele dia, facto que mais tarde avaliaria como um erro.

A dor pessoal coincidiu com a pressão política, pelo facto de o governo congolês ter encerrado o CVAAR e a sede do MPLA em Léopoldville, numa tentativa de empurrar os nacionalistas para a UPA, a pedido de Holden Roberto. Apesar dos golpes, a convicção de Deolinda mantinha-se firme. Em carta a sua amiga Luzia de Jesus, datada de 4 de Março de 1965, escreveu: “Quando um povo acorda e está decidido a vencer ou a morrer.”

O que a preocupava eram as divisões internas no MPLA, então marcadas por um alegado conflito entre a direcção de Neto e o grupo de Viriato da Cruz (co-fundador do MPLA, autor do seu manifesto e então secretário-geral) e Matias Miguéis (um dos fundadores deste movimento).

Este último chegou a promover panfletos acusando Neto de estar ao serviço dos portugueses, o que Deolinda encarava como uma manobra para enfraquecer o presidente do movimento. Mais consciente da realidade, a jovem guerrilheira passou a relativizar tais divergências.

Em carta a Julião Mateus Paulo “Dino Matrosse”, datada de 18 de Outubro de 1965, admitia que a luta avançava mais lentamente do que o desejado, mas via nisso um processo natural, considerando a revolução uma escola em que dirigentes e militantes aprendiam a corrigir erros e a organizar-se melhor.

Em 1967, quando se intensificou a luta armada, Deolinda estava entre as mulheres da OMA destacadas para trabalhos agrícolas. Insatisfeita, voluntariou-se para integrar o grupo de guerrilheiros.

Assim, após ter vivido várias experiências na Europa, América Latina e na América do Norte, passou a enfrentar uma vida pouco digna na mata. Entre noites ao relento, consumo de água de pântano e refeições improvisadas de safus, dendéns e abacate fervidos, regressou ao solo angolano após oito anos de exílio.

A satisfação foi enorme e não conseguiu conter a emoção. Beijou a terra da pátria como quem sela um juramento. No diário, registou as artimanhas que tiveram de implementar para escaparem de bombardeamentos da artilharia portuguesa.

A travessia, contudo, foi um suplício, de tal modo que, no dia 28 de Fevereiro, todos do grupo acordaram inchados, exaustos, próximos de um quartel português. Deolinda descreveu a experiência como “uma verdadeira corrida contra a morte”, defendendo que as guerrilheiras sobreviventes da tragédia “Kamy” deviam ser condecoradas. Poucos dias depois, o pior aconteceu.

Ao tentarem chegar a Songololo, na fronteira com o Congo, foram surpreendidos por militantes da UPA, em Kamuna, zona que se encontrava sob domínio deste movimento. Detida com os companheiros, foi levada para a base de Kinkouzu, no interior de Angola.

O sociólogo João Paulo N’ganga relata, na obra O Pai do Nacionalismo Angolano (Holden Roberto), que o cativeiro prolongou-se até 2 de Março de 1967. Entretanto, a pressão da família de José Miguel, que era militante da UPA e ex-militante do MPLA, e que foi alegadamente morto em Brazzaville juntamente com Matias Miguéis, agravou o destino dos prisioneiros.

O próprio Holden Roberto viria a confessar: “Deolinda foi fuzilada por nós, conjuntamente com outras militantes do MPLA apanhadas na ocasião. (…) Foi um acontecimento trágico e triste, só explicado à luz da guerra sem quartel que grassava entre os movimentos.”

A execução de Deolinda cimentou a distância entre os nacionalistas e alimentou um ódio exacerbado, que se estendeu até aos executores anónimos, Timóteo “Vassoura” e Sanção, cujos nomes permaneceram associados a esse episódio sombrio da luta de libertação. Um ódio exacerbado, cuja sombra ainda paira sobre a memória da luta de libertação.

Jornalista

Paulo Sérgio

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