Antes, faz-se necessário compreendermos a magnitude da Linguística Aplicada, a mesma, sendo um ramo da Linguística, consiste em utilizar o conhecimento sobre a linguagem para resolver problemas práticos em diversas áreas, como ensino de línguas, tradução, políticas linguísticas, tecnologia da linguagem, entre outras.
Diferente da Linguística Teórica, que busca descrever e explicar fenómenos linguísticos, a Linguística Aplicada preocupa-se com o uso da linguagem em contextos reais.
Das muitas áreas de actuação, a Linguística Aplicada ocupa-se também da Tradução e Interpretação, estudando equivalência e adaptação cultural na interpretação.
O carácter interdisciplinar da língua, seja onde for, deve ser observado, sob pena da língua não exercer cabalmente a sua função primária: comunicar.
Quando se negligencia a interdisciplinaridade linguística, esquecendo-se sobretudo da sociedade, meio através do qual a língua se realiza, acabamos por não fazer uma aplicação sensata ou mesmo científica, colocando-a na condição de um fenómeno isolado.
A língua, diria António Marques, é feita pelos seus legítimos falantes. Partindo dessa ordem de ideia, torna-se imprudente estudar ou analisar a língua sem os seus legítimos fazedores.
Por outro lado, anda-se na contramão da Linguística Aplicada quando, no âmbito da Interpretação, não há rigor que se impõe do ponto de vista da ciência linguística.
Aliás, em qualquer instituição até mesmo em religiosas, antes de se requerer um intérprete, deve-se fazer um inquérito para saber, num cenário multilingue, qual é a língua unificadora (aquela que reúne o maior número de falantes) ou qual é o maior grupo etnolinguístico, assim os resultados advindos desse estudo ditarão se a interpretação será feita em que língua.
A título de exemplo, se a língua unificadora for o português ou o umbundo, então a interpretação deve ser feita numa dessas línguas.
É desnecessário e até má aplicação linguística, num cenário multilingue em que a língua unificadora é o umbundo ou o português, haver um intérprete em inglês.
O artigo tem razão de ser pelo facto de ter feito parte de um culto religioso (omito a denominação religiosa por uma questão de ética), onde, apesar de ter um cenário multilingue e um grupo etnolinguístico hegemónico ambundu, a interpretação era feita do português para o inglês.
Tal discrepância levou-me a questionar por que se deu primazia ao inglês em detrimento do kimbundu, um dos membros da igreja respondeu-me que, na visão do seu líder, seria o artifício para se internacionalizar a igreja: atropelo à Linguística Aplicada, dado que a internacionalização da igreja, sob perspectiva do rigor científico, não implica negligenciar a função para a qual língua foi concebida: informar.
Deve haver, portanto, entre os intervenientes de um acto comunicativo (locutor, interlocutor e ouvinte) correspondência. Para tal, o código tem de ser conhecido por ambos.
Por: António Raimundo