Angola atravessa um momento decisivo na sua trajectória económica. A aposta na diversificação e, em particular, no sector agrícola como alternativa sustentável ao petróleo exige mais do que discursos bem-intencionados. Como reconhecem os próprios agricultores, esta mudança requer políticas ajustadas, crédito acessível e soluções que respondam à realidade concreta das lavras, onde o trabalho nunca parou, apesar das dificuldades.
Foi neste contexto que o Banco Angolano de Investimentos apresentou recentemente, durante a Expo Huíla 2025, o PAC Express, uma nova linha de crédito agrícola. A iniciativa tem como objectivo apoiar pequenos produtores, cooperativas e comerciantes rurais, oferecendo financiamento que vai desde a compra de insumos até à comercialização da produção. O seu principal diferencial está na adaptação ao ciclo produtivo de cada negócio e no esforço para reduzir a burocracia que historicamente dificulta o acesso ao crédito no campo.
A província da Huíla, uma das mais emblemáticas em termos de vocação agrícola, possui 3 milhões de hectares disponíveis para cultivo, atraindo até investidores estrangeiros, mas, a Huíla vive um paradoxo: possui potencial produtivo elevado, mas continua a enfrentar desafios estruturais como a falta de assistência técnica, a escassez de maquinaria e as dificuldades no escoamento da produção. Em contacto recente com produtores locais, pude sentir que, apesar da desconfiança acumulada ao longo dos anos, há uma nova esperança a germinar com a chagada deste tipo de crédito.
Domingos Katata, agricultor na comuna da Arimba, foi um dos que partilhou comigo o seu sentimento em relação à iniciativa, disse que tem intenção de aderir e, caso consiga, o crédito pode ajudar muito. “Nós aqui já estamos a trabalhar, só falta apoio de verdade.” A sua frase resume o que muitos pensam, a vontade de produzir existe, o que falta são ferramentas adequadas para transformar esforço em rendimento.
Outra que também testemunhou, foi Ana Paula Chilombo, produtora de hortícolas em Cacula, falou de um outro ponto essencial, a distribuição. “Esse dinheiro pode ajudar a escoar os nossos produtos para as grandes cidades. Pode mudar muita coisa por aqui”, disse. Com acesso a financiamento, os pequenos produtores poderão melhorar a logística e alcançar mercados que hoje parecem distantes, apesar da curta distância geográfica.
Segundo as informações a que tive acesso, o montante a financiar no crédito PAC Express do Banco BAI é de até Kz 75 000 000,00 (setenta e cinco milhões de kwanzas), em função da avaliação do perfil do solicitante. Este projecto, tem ainda a ambição de alcançar agricultores que permanecem fora do sistema bancário tradicional. Uma abordagem mais realista, alinhada com as particularidades da ruralidade angolana, onde a informalidade ainda domina grande parte da produção agrícola. Iniciativas como esta representam um passo relevante no processo de inclusão financeira e na progressiva formalização da economia rural.
Contudo, para que o impacto seja duradouro, será fundamental assegurar a articulação entre instituições públicas e privadas, promover a organização dos produtores e criar mecanismos eficazes para que o apoio chegue, de facto, aos que mais precisam. Fiquei realmente com a percepçãp de que, no campo angolano, onde a transformação tem sido prometida há décadas, a esperança volta agora a germinar. E, ao assumir este compromisso, a banca nacional começa a cumprir o seu papel no desenvolvimento do país real.
POR: Paulo Forquilha.
Economista