A emigração é um fenómeno global, mas, em Angola, ela adquire contornos particulares. O debate gira entre duas questões centrais: a busca por melhores condições de vida ou uma alegada crise de patriotismo? Entender este fenómeno exige olhar com isenção para a realidade angolana e para os motivos que levam tantos a deixar o país.
O portunidades escassas, esperança distante
A maioria dos angolanos emigra por necessidade. O país enfrenta altos níveis de desemprego, fraca diversificação económica, corrupção e salários indignos.
Muitos jovens qualificados, após anos de estudo, não encontram oportunidades e são forçados a buscar melhores condições no exterior, ainda que isso implique deixar tudo para trás. Em muitos casos, essa decisão não nasce da rejeição à pátria, mas da urgência em sobreviver e oferecer uma vida digna às suas famílias.
Patriotismo na diáspora Classificar os emigrantes como antipatriotas é injusto. Patriotismo não é apenas residir no país, mas contribuir para seu progresso. Muitos angolanos no exterior investem em Angola, apoiam familiares, promovem a cultura nacional e defendem causas justas.
A diáspora tem voz ativa, influencia debates e partilha experiências que podem ajudar a construir um país melhor. O regresso de muitos com novas competências pode dinamizar áreas como educação, saúde e empreendedorismo.
Responsabilidade do estado A emigração é também resultado da má governação. A ausência de políticas eficazes, o sistema educativo deficitário, a centralização do poder e o clientelismo afastam os jovens da esperança de um futuro digno.
A elite beneficiou-se dos recursos nacionais enquanto a maioria viveu na escassez. Assim, a frustração substitui o patriotismo e o desejo de partir torna-se compreensível. Patriotismo ou sobrevivência? A dicotomia entre patriotismo e emigração é falsa.
É possível amar Angola e, ao mesmo tempo, procurar melhores condições no estrangeiro. Em muitos casos, a emigração é uma forma de resistência contra a resignação.
Não se trata de desistir do país, mas de rejeitar condições indignas de vida. O patriotismo hoje é global: pode-se contribuir à distância, sendo útil à pátria de diferentes formas.
Reconciliação nacional e papel da diáspora
Angola precisa valorizar a diáspora, criar políticas de inclusão e incentivar o regresso voluntário. É fundamental promover reformas internas profundas para gerar oportunidades e fazer com que os cidadãos queiram ficar. Esse esforço envolve o Estado, a sociedade civil, o sector privado e a juventude.
Conclusão
A emigração angolana reflecte a escassez de oportunidades, não necessariamente a ausência de amor à pátria. Em muitos casos, partir é uma decisão dolorosa, motivada pela esperança.
Angola precisa de menos julgamento e mais compromisso com a mudança. Os que ficam, os que partem e os que pensam em voltar fazem parte da mesma construção nacional. O verdadeiro desafio está em transformar a dor da partida na esperança de regresso a uma Angola mais justa, próspera e humana.
Por: Feliciano Veríssimo