Dois dias depois da paralisação decretada, supostamente por uma organização que alberga taxistas, os sinais que se vão evidenciando demonstram que se esteja a lidar, talvez, com uma equipa sem rosto. Ou se tem, então quase nada ou nada se sabe de quem está do outro lado, o que pode levar muitos a presumirem sobre as reais razões dos últimos acontecimentos.
É comum, em fases como estas, em que se procura uma paralisação, existir, do lado oposto – já que de um parece estar o Executivo – indivíduos que possam balancear as acções desencadeadas, apresentar informações sobre os consensos alcançados, as- sim como avançar sobre actividades subsequentes.
Lançados ao fervor numa manhã de segunda-feira, após um domingo de ziguezagues entre as principais associações que representam os taxistas, até mesmo a própria comunicação social não consegue encontrar um único interlocutor válido: uma organização que possa transmitir o que vai acontecendo e expressar algum desalento pelo descarrilamento que se observa numa paralisação que pretendia que os luan- denses ficassem em casa.
O que previa ser uma paralisação de taxistas, durante três dias, transformou-se, rapidamente, em actos de vandalismo puro, com pilhagem de lojas e outros estabelecimentos comerciais, entre os quais as lojas Arreiou, que parecem ser as preferidas de quem está no leme de tais acontecimentos.
O que era suposto ser preenchido por aqueles que, em primeira instância, terão chamado a atenção para um acréscimo no preço do combustível que não satisfaça os seus interesses passou, desde o início dos actos de arruaça e vandalismo nu e cru, a ser quase que idolatrado por indivíduos com o rótulo de políticos, alguns dos quais com responsabilidades acrescidas na praça política angolana.
Num ápice, o que parecia ser um acto legítimo e aceitável, tendo em conta o agravamento do preço do gasóleo e as suas implicações, tornou-se numa acção macabra que acabou por colocar centenas de angolanos no desemprego, provocando a destruição de bens públicos e criando, no seio de empresários estrangeiros que aqui investem, um sentimento de desespero por conta dos prejuízos materiais e financeiros.
Embora tenha nascido como uma reivindicação lançada por um certo grupo, em que alguns integrantes da ANATA se demarcaram e outros da mesma associação dizem não se rever, o certo é que se vai levando agora para o campo político, com outros itens que não aqueles que, inicialmente, constavam das exigências de quem lidera a organização por detrás da paralisação.
Resta, agora, saber quem serão aqueles que darão o rosto quando chegar a hora de se sentarem à mesa para analisar os argumentos que levaram à paralisação dos taxistas, num movimento em que um número considerável garantira, antes, que não se revia no processo. Não acredito que venham a surgir políticos, alguns dos quais se mostram mais activos nesta causa, vestidos de camisola e boné, quando nem sequer ainda tinham sido chamados ao assunto.