Quem o via inicialmente, durante a fase do conflito, quando Angola buscava de forma desenfreada a paz definitiva, tinha quase sempre a impressão de estar diante de um oficial ‘durão’, daqueles que impunham continência até mesmo aos civis com quem cruzava.
Foi assim que muitos de nós, ainda adolescentes, sobretudo, acompanhávamos as suas incursões na extinta Comissão Conjunta Político-Militar, vulgo CCPM, onde integrava a equipa do Governo angolano, ao lado de figuras renomadas como os já malogrados Venâncio de Moura, Cirilo de Sá ‘Ita’, e os ainda vivos Fernando Faustino Muteka e António dos Santos França ‘Ndalu’, o “general dos generais”.
Era, já, nesta altura, um dos mais notáveis no grupo que tinha a missão de, junto da equipa de dirigentes da UNITA, capitaneada por Elias Salupeto Pena, levarem a bom porto as direcções emanadas nos Acordos de Bicesse, rubricados em Portugal, em 1991. Fernando da Piedade Dias dos Santos, o Nandó para muitos – embora a dada altura oficialmente se tenha solicitado a menção oficial deste cognome –, subiu posteriormente na esfera política partidária e do próprio Estado angolano.
À medida que fosse galgando terreno, tanto na Polícia Nacional, onde foi comandante-geral, no Executivo, como vice-ministro e, posteriormente, ministro e primeiro- ministro mostrava-se, cada vez mais preparado para as missões que lhe eram confiadas pelo malogrado Presidente José Eduardo dos Santos. Cada aposta ruía também a imagem do chefe durão que desde cedo alguns pensavam ter à frente.
Aliás, tornou- se muito marcante o seu sorriso tímido, mas vistoso, sobretudo vindo de um oficial superior que, despido da farda, acabava por dar àqueles com quem privava pela primeira vez um lustro de novidade. Era visível também nas plenárias da Assembleia Nacional, que presidiu por duas vezes, nas quais teve a missão de dirigir grupos díspares, entre o partido no poder e a oposição, com objectivos diferentes.
Mas as diferenças políticas não criaram em Fernando Dias dos Santos a acidez que campeia em muitos, incluindo nacionalistas. Fez dela um activo na sua forma de ser e de estar, como durante algumas décadas acabaram por confirmar figuras proeminentes da oposição que tiveram as suas vidas em risco durante o sangrento conflito pós- eleitoral em 1992.
As mensagens de condolências que vão sendo endereçadas confirmam a versatilidade e o espírito congregador deste homem, militante convicto doMPLA, partido no poder, onde sempre esteve nos principais grupos de decisão, como o Comité Central e o Bureau Político.
Aliás, nos últimos dias, quando se fez presente durante a inauguração da nova sede da organização, foi notório o calor que transmitia aos seus correligionários. Com 75 anos de idade, Fernando Dias dos Santos foi sempre uma figura marcante. A sua passagem pelas várias esferas do poder vai sendo ressaltada já com nostalgias, independentemente dos erros que possa ter cometido enquanto humano.
Por causa da sua folha de serviço, não é nenhum sacrilégio dizer-se que se estava perante um homem a quem só faltava, provavelmente, franquear as portas do Palácio da Cidade Alta. Já lá esteve. Enquanto vice-presidente da República, auxiliando o Presidente José Eduardo dos Santos.
Mas com zelo e dedicação, Nandó soube, sim, marcar o seu tempo e o seu trabalho em prol de Angola e dos angolanos, sendo por mérito próprio um dos verdadeiros obreiros da paz que hoje se vive com afinco e permite o desenvolvimento do país.









