Já nos tínhamos encontrado antes em Luanda. Depois do fim do conflito armado no país, havia sempre a curiosidade de se saber quem era afinal este político que, durante anos, serviu a UNITA em Washington. Quem leu o seu livro ‘‘Angola – A Segunda revolução’’ consegue ver nele o pensamento de um homem que conhecia a então organização política fundada por Jonas Savimbi e os seus conjurados.
Era, até para os mais cépticos, pouco provável que um dia viesse a abandonar a uNITA e seguir para um outro partido, como o fez seguindo Abel Chivuku- vuku no seu PRA-JA Servir Angola. Quando esta transferência política aconteceu, a curiosidade de muitos será saber de facto ‘que razões estariam por detrás’.
A mim também suscitou logo curiosidade, o que fez com que ligasse ao malogrado Jardo Muekalia para uma conversa que acabou por ser a última, infelizmente. Encontramo-nos no Hotel Tropicana, em Luanda. Visivelmente feliz, mas estava diante de um político que, depois de ter servido a UNITA, garantia já não ter condições para integrar este partido político, optando por um outro porque entendia que era preciso quebrar a bipolaridade ainda existente.
Mais do que uma escolha, disse-me também que estava a preparar as condições para um regresso definitivo a Angola, depois de largos anos nos Estados unidos, onde, infelizmente, veio acabar por falecer nos últimos dias. Entendia Jardo Muekalia que já era tempo, porque os filhos estão crescidos e saberiam dar conta das suas próprias necessidades. Os tempos de América não lhe tinham moldado a consciência.
Por exemplo, apesar das condições sociais melhores neste país, disse-me que ainda assim existiam aspectos que o mantinham sempre ligado ao país que o viu nascer. Entre estes estão os convívios, o abraço mwangolé e, principalmente, a alimentação típica entre nós.
Com 2026 à porta, é sabido que o campo político será agitado por conta das eleições de 2027, altura em que os angolanos irão novamente às urnas para escolher o partido que nos vai governar e, igualmente, o futuro Presidente da república. Seria uma enorme mais-valia para o PRA-JA a participação de Jardo Muekalia na próxima campanha eleitoral.
Gostaria imenso de vê-lo a debater, sobretudo, com os seus antigos companheiros de trincheira na UNITA, porque a sua saída era uma espinha na garganta de muitos. Afinal, não é todos os dias que deserta das fileiras de uma organização um peso-pesado como ele, que vezes sem conta chegou a ser também apontado como um presidenciável nas hostes do movimento do Galo Negro.









