Corria o ano de 2016 quando começaram a surgir, a nível da comunicação social, informações de que existiram determinados descaminhos dos fundos alocados para o tratamento de doenças como a malária, HIV/Sida, tuberculose e outras.
O dinheiro era proveniente do Fundo Global, organização que, naquela fase, alocara pouco menos de 50 milhões de dólares norte-americanos para o combate das referidas patologias.
Porém, parte deste bolo caía nos bolsos de indivíduos insaciáveis ligados às instituições que tinham a missão de geri-los e encaminhar para o benefício dos pacientes.
Foi assim que, em 2018, o Tribunal Provincial de Luanda condenou os cidadãos Sónia Neves e Milton Saraiva, respectivamente, às penas de seis e oito anos de prisão.
O esposo da cidadã condenada acabou absolvido, apesar das acusações de que se beneficiava do malbaratamento das verbas nas acções desenvolvidas pela esposa então ligada à unidade que tinha por missão gerir as verbas. Foi um processo que acabou beliscando, de algum modo, as relações entre as autoridades angolanas e o Fundo Global.
O então ministro da Saúde, José Van-Dúnem, hoje radicado em Portugal, acabou se tornando declarante no processo. E outros governantes, que durante algum tempo se reuniam com os seus parceiros internacionais, não se viam livres das acusações de que não se dava o verdadeiro destino às verbas que eram enviadas a Angola.
Houve quem mesmo prognosticasse que Angola, dificilmente, fosse recuperar a sua imagem junto de vários organismos internacionais. O que seria muito mau se se tiver em conta o número de pacientes e outras pessoas que beneficiam directa ou indirectamente destes montantes para a aquisição de medicamentos, apoio às supervisões, formação de técnicos e as campanhas de sensibilização a nível das comunidades.
É ponto assente que ainda permanecem, nos dias de hoje, alguns dos vícios que se verificavam no passado. Não só em termos de desvios de verbas como até mesmo de medicamentos como se observou, recentemente, no Hospital Emílio de Carvalho, inaugurado há pouco tempo pelo Presidente da República, João Lourenço.
O aumento do financiamento, agora em mais de 100 milhões de dólares norte-americanos, representa confiança do Fundo Global com as autoridades angolanas.
Porém, é imperioso que essas verbas, destinadas à compra de medicamentos e outras acções para o combate das principais endemias, não caiam em mãos como aquelas dos indivíduos que tenham uma relação tortuosa com fundos que devem servir a todos.