Vi-os pela primeira vez há muitos anos. Não sei se na estrada nacional 100 ou na 230. Mas eram eles, em grupos de 3 ou 4, esperançosos de receber sempre alguma coisa em cada viatura que passasse. Com o andar do tempo, talvez porque a mensagem pode ter passado de boca em boca, alimentado também pela inércia das próprias autoridades, os postos da vergonha foram aumentando.
E com eles também o grupo de meninos que pensara ter visto apenas uma vez na vida, hoje crescidos, repartindo o trabalho com outros mais velhos e novos. Os anos passam, aumentam também os nossos problemas em relação às estradas em muitas partes do país. Os buracos estão aos montes, principalmente depois das chuvas que vão caindo sem piedade em quase todo o território nacional. Alguns estão em estradas novas.
Outros crescem sem pestanejar nas mais antigas e críticas, que aguardam ansiosamente pela intervenção das autoridades. E é nestas em que os postos da vergonha florescem, colocados por jovens que se aproveitam deles para entulhar e esperar que cada automóvel que passe lhes brinde com uma moeda ou algo mais pela intervenção preventiva que fazem. Trata-se, na verdade, de uma intervenção que deveria ser feita pelas administrações municipais ou provinciais, se possuíssem meios para o efeito, mas não é o que ocorre.
De forma improvisa- da, hoje jovens e crianças tratam de tapar os buracos com pedra, paus e areia esperando que esse esforço venha a ser recompensado, no fim do dia, com uma boa maquia resultante da colheita que se faz em cada veículo que transpuser a empreitada arcaica. Há quem diga que as autarquias possam resolver este dilema.
Cuidar das estradas aí onde existir um buraco. Outros defendem apenas que a simples municipalização imediata destes serviços serve para que se acabe com a pouca vergonha que se observa, transmitindo uma imagem de desorganização e falta de estruturas simples que a esta hora estariam a percorrer, identificar e realizar pequenas operações de tapa buraco para que a circulação de pessoas e bens não seja interrompida. Lembro-me de terem sido inauguradas, com pompa e circunstância, há alguns anos, deter- minados pontos do Fundo Rodoviário Nacional ao longo das estradas nacionais. As infraestruturas mantém-se lá.
Ainda podem ser observa- das, mas o mesmo não se sabe dos homens que tinham, se calhar, alguma relação com o Ministério das Obras Públicas, incluindo salarial. É urgente que as autoridades encontrem um mecanismo que impeça que os automobilistas, que já pagam o Imposto de Veículo Motorizado (IVM), o substituto da Taxa de Circulação, ainda tenham que ser submetido a este peditório crescente a nível das estradas do país.
Dar a um ou dois, às vezes, pode parecer normal, mas quando surgem vários postos da vergonha como cogumelos, isso já ultrapassa o bom senso de quem espera por soluções vindo das entidades que se esperavam responsáveis.