Começou bem, com serviços de invejar. Pontualidade. Boas refeições. Rotas intra-africanas que resgataram o orgulho do continente. Tinha sinais de eficiência. E todo mundo caiu na finta de marketing. Foram batidas palmas infindáveis ao CEO Esayas Woldemariam Hailu pela precisão operativa.
Lembro- me de um ex-CEO da Taag que prescindiu da sua própria companhia para viajar pela Asky e verificar in loco a qualidade de serviços prestados pela concorrente. Gostou e elogiou. Hoje a companhia pan-africana só vende banha de cobra para o desespero dos seus utentes.
Deixou cair as estrelas que conquistou neste continente. É muita desordem, atrasos, alterações de rotas ao último instante e perca sucessiva de bagagens. Não há reparações/ compensações. Apenas um “sorry” ou “very sorry”. E as reclamações contra Asky amontoam-se.
Fui ouvindo de muitos colegas, amigos e utentes. Ex- presidentes, ministros, embaixadores, conferencistas, pastores, empresários e gente normal já caíram neste embuste da companhia pan-africana. Explico- me: 1 – Mudanças bruscas. No dia 1 de Novembro, deveria viajar na rota Luanda/Lomé/Abuja. Acomodado no meu assento, é anunciada a alteração da rota para Luanda/Abuja/Lomé.
Esfreguei as mãos de contente porque chegaria cedo à casa para preparar outra mala e, no dia seguinte, rumar a Cotonou/ Benin para uma outra missão. Pelos altifalantes fui chamado pela tripulação.
Apresentado à cabina da tripulação, era o próprio comandante que fazia as alterações, a replanificação do voo e das bagagens. Pediu- me o cartão de embarque e os tickets da bagagem. Scanearam tudo e voltei ao meu lugar. Neste movimento reparo que na Classe Executiva estava acomodado o ex-Presidente da República do Níger Mahamadou Issoufou (2011-2021) e o seu séquito.
Pensei com os meus botões que a alteração da rota poderia ser por força maior de algum compromisso desta entidade, mas para o meu espanto, depois de aterrarmos em Abuja, fui o único passageiro a desembarcar. O que se seguiu foi uma longa e desgastante jornada de dias consecutivos para resgatar as minhas malas.
Nem um pedido de desculpas para um serviço pago a preço competitivo. 2 – Bagagem perdida. Nesta sexta-feira, 19 de dezembro, deveríamos viajar de Abuja/ Lomé/Luanda. Já na sala de embarque foi anunciada a alteração da rota para Abuja/ Lagos/Lomé/Luanda/Ponta Negra. Típico de um táxi aéreo.
O avião veio superlotado. Bom para as receitas da companhia. Em Lomé nem espaço para o parqueamento tínhamos. Seguiu-se uma longa espera de mais de duas horas para a transferência da bagagem. Chegados a Luanda, nenhuma mala de Abuja foi encontrada. Todas ficaram em Lomé. Uma situação que condicionou o seguimento da minha viagem para a cidade de Benguela. Terei que esperar 72 horas até ao próximo voo. É desgaste físico-mental. Financeiro e desprogramação da minha vida.
É muita maldade e falta de respeito ao utente que espera ser bem servido. Não é um favor. É uma obrigação contratual que deve ser respeitada à letra. 3 – Ambição desproporcional. A Asky Airlines expandiu demais as suas operações e agora não consegue responder à demanda.
Em Lomé, nas horas de ponta, filas desconfortantes e quase intermináveis de passageiros para voos de ligação. A estrutura do aeroporto internacional Gnassingbé Eyadema, em Lomé/Togo, já não corresponde ao fluxo de passageiros. As salas de embarque, desconfortáveis, estão permanentemente abarrotadas.
Os serviços de transferência de bagagens tornaram-se ineficientes. Consequências: perca constante de malas com prejuízos incalculáveis para os passageiros. A companhia precisa redimensionar-se em tudo. Recursos humanos, equipamentos, infraestruturas e programação para corresponder à procura dos seus serviços. Para quem não sabe, a Asky Airlines é uma companhia pan- africana hospedada em Lomé/Togo, onde opera há quinze anos como hub.
Foi criada com financiamento de bancos regionais da África Ocidental para melhorar a conexão intra-africana e redimir a vergonha dos africanos terem que passar pela Europa para chegar a um país vizinho.
Não façam fracassar um projeto que é nossa pertença como africanos e tem uma identidade para orgulhar a Mãe-África. Respeitem e dignifiquem a construção de uma história com alma pan-africana, que é apanágio da vossa bandeira.
POR: Lilas Orlov em, Luanda









