Quando precisou consolidar as suas condições para alcançar a independência, Angola viu os seus movimentos que lutavam para a independência basearem-se nos dois Congos: Brazaville e Democrático. Estes dois territórios serviram, durante anos, de esteio para os anseios dos angolanos, que ainda viviam sob o jugo colonial.
Foi também do então Zaire, hoje República Democrática do Congo, de onde saiu um contingente que, ao lado das extintas forças do ELNA, antigo braço armado da FNLA, procurou travar a proclamação da independência em Luanda, mas que acabou rechaçado em Kifangondo, a escassos quilómetros da capital. Cerca de trinta anos depois, quando foi preciso fazer a guerra para se acabar com a guerra, como pressagiou o malogrado Presidente José Eduardo dos Santos, Angola teve que investir diplomática e militarmente na RDC para que se pudessem criar as bases necessárias para se impedir o rearmamento das antigas FALA.
E com isso se encurralar a nível interno, nas matas do país, a antiga rebelião armada, que viu morrer o líder Jonas Savimbi em 2002 e, consequentemente, possibilitou a assinatura de um acordo de paz cujos frutos permanecem até aos dias de hoje. Ligados por uma extensa fronteira, Angola e República Democrática do Congo estão condenados a encontrarem consensos e ambientes de paz para que as suas acções internas não sofram quaisquer embaraços, tendo em conta que um conflito num dos dois estados acaba sempre por levar ao território de outro um grande número de pessoas que não podem ser menosprezadas.
É por isso que a busca de um acordo de paz para a República Democrática do Congo sempre constou da agenda de Angola, ganhando também um maior interesse nos últimos anos com a mediação que foi levada a cabo pelo Presidente João Lourenço, que foi insistentemente recebendo e reunindo-se com os líderes deste país e do Ruanda.
Apesar da entrada em cena do Qatar e agora dos Estados unidos da América para a assinatura de um armistício entre a RDC e o Ruanda, que apoia quase que declaradamente os rebeldes do M-23, tiveram sempre como palco Luanda, onde os principais protagonistas do conflito foram marcando presença.
O facto de este acordo de Washington acontecer numa fase em que o Presidente João Lourenço é, coincidentemente, o líder da União Africana acaba por ser uma cereja no topo do bolo, uma vez que, enquanto presidente, têm sido um dos que mais se tem batido para que as partes em conflito firmem um acordo, e a RDC se preocupe com o seu desenvolvimento socioeconómico.
Quando hoje for rubricado o acordo, seguramente na Sala Oval, na presença de Donald Trump, o Presidente angolano não será uma mera testemunha. Mas sim um dos obreiros e dos mais interessados que a República Democrática do Congo e o Ruanda consigam, de uma vez por todas, chegar a um entendimento que torne mais segura a região dos Grandes Lagos.
Porque o aumento da tensão e o recrudescer deste conflito tornam esta parte de África num campo aberto para outras acções e a deslocação de milhares de pessoas para outros países, entre os quais Angola, que hoje já vê a sua população a aumentar de forma vertiginosa, podendo comprometer muitas políticas públicas.









