Hoje não é um dia qualquer. Não importa a percepção que se tenha. Se se apoia o Executivo, sustentado pelo partido no poder, o MPLA, ou se se é apologista das teses da oposição política, parlamentar ou extraparlamentar, que ambiciona atingir a liderança do país nos próximos tempos.
O dia de hoje está reservado ao Presidente da República, João Lourenço, nos termos da Constituição da República de Angola, cabendo- lhe, sim, abrir o novo ano parlamentar através do habitual Estado da Nação — por sinal, o penúltimo da actual legislatura, uma vez que as próximas eleições gerais acontecem em 2027.
À semelhança dos anos anteriores, a maioria dos angolanos aguarda ansiosamente para escutar o que dirá o Presidente. Não importa a cor partidária, credo ou simpatias: há, sim, um interesse em saber o que tem sido feito, que perspectivas existem para o futuro, assim como a mensagem que poderá ecoar no seio dos cidadãos para se ultrapassarem as situações menos abonatórias que o país vive.
São tantos os palpites! Seja a nível das questões internas como externas, há, em muitos, o desejo de se verem reflectidos no que o Presidente João Lourenço poderá dizer — não importando sequer, para muitos deles, que o que quer que venha a ser dito assente na realidade e nas condições políticas, económicas e sociais existentes.
Quem, nos dois últimos dias, ouviu as sugestões de cidadãos entrevistados pelos vários órgãos de comunicação social, públicos e privados, apercebeu-se de que a expectativa é grande.
Embora poucos o admitam, há uma maioria esperançosa de que saiam das palavras do Presidente muito mais do que um rescaldo do que vai sendo feito — mas, sobretudo, o que consta da agenda para se alterar o quadro em muitos domínios.
Na verdade, mesmo que se registem melhorias, para os cidadãos será sempre necessário mais. São precisas mais escolas, mais postos de saúde, a diminuição da inflação, o aumento do consumo — que estará associado ao acesso aos rendimentos, através do salário —, alcançável somente se se tiver um emprego, num país com um nível de desemprego na ordem dos 30 por cento.
No campo político, um dos mais candentes do país, apesar da importância que o lado económico comporta, a ansiedade reside no facto de ainda não terem ocorrido as eleições autárquicas — embora, como tem frisado o Presidente da República, falte aprovar uma lei, depois dos consensos alcançados entre o partido no poder, a UNITA e outros da oposição.
Das questões micro às macro, são vários os palpites sobre o que cada um pretende escutar — cada um ansioso naquilo que lhe importa.
Feliz ou infelizmente, é assim que acontece quando se antecede o discurso sobre o Estado da Nação, gerando depois, em quase todo o país, fervorosos debates sobre o que será dito — gerando contentamento em uns e também descontentamento em outros, que nem mesmo o espírito da Dipanda, cinquenta anos depois, acabará por gerar consensos.