Três dias depois de Angola ter conquistado o Afrobasket, nos bastidores e corredores ainda se debate sobre o que aconteceu no domingo no Pavilhão do Kilamba e as suas implicações. Desde o ponto de vista político, intelectual, social e até económico.
Entre muitos aspectos, o que mais tem levantado análises tem sido a reacção de alguns presentes durante o momento da entrega da taça pelo Presidente da República, João Lourenço, por sinal, um acto normal em democracia, sobretudo num país necessitado de algumas medidas económicas e sociais até então menosprezadas, apesar da necessidade que todos os sectores da própria sociedade, incluindo a oposição, há muito defendiam.
De qualquer modo, os dias que se seguem não deixarão de marcar a festa que se vive, não obstante ao facto de existir também do outro lado quem tenha preferido tentar abafar o momento.
Ou, no mínimo, espera-se misturar alho com bugalhos, denotando que um fracasso do combinado angolano pudesse depois ser levado para outras interpretações, até mesmo políticas.
Embora não alivie algum aperto que se viva nestes últimos tempos, por conta do aumento do preço do combustível e as escaramuças dos dias 27, 28 e 29 de Julho deste ano, que culminou em cerca de 30 mortes, os angolanos viveram independentemente disto um período de comunhão de espíritos durante a fase do Afrobasket.
Noves fora, a problemática de comunicação do campeonato, que deve ser imputada ao Afroloc, a comissão criada para organizar a competição, ao lado da FIBA-AFRICA, a verdade é que, quando o combinado angolano entrasse em campo, havia de parte da maioria dos angolanos um verdadeiro sentimento de pertença.
Aliás, a multidão que na parte final se deslocou ao Pavilhão Multiusos do Kilamba demonstrava que o desporto é, sim, festa, paixão, unidade e até bálsamo temporário para aliviar certas maleitas, algumas das quais não são exclusivas de um só país, como se pretende fazer crer.
O pior é ver que, numa fase em que o ideal seria optar pelo fairplay, tal como sugerem os ideais olímpicos de Pierre de Coubertin, exista entre nós quem, mesmo em momentos em que se deve torcer pelo país, parece estar a agir em sentido contrário.
Algumas das publicações feitas por alguns políticos, cuja responsabilidade seria acrescida no sentido de se agregar o espírito de patriotismo, girando em torno de uma equipa campeã e que agora deve merecer o devido reconhecimento, lançam até suspeitas de que, provavelmente, muitos nem sequer se teriam levantado para cantar o Hino Nacional, quando muitos angolanos o fizeram ou o fazem.
Como dizem alguns, há mais vida para além da política, não obstante a responsabilidade acrescida que se atribui à arte de guiar e influenciar. Mas os exemplos que vão surgindo indicam, de forma convincente, que existem ainda muitas mentes, incluindo no Parlamento, incapazes de aceitar esta pura e dura realidade.
A devoção pelo vale-tudo acaba por cegar, impedindo-os de diferenciar os momentos, nem tão pouco aceitar que quando o que está em jogo é muito mais do que olhar para adversários políticos, mas sim para um país e seus ganhos, que parecem só conhecer e defender teoricamente.