Quem acompanhou estes dois dias o cenário que se vivia – ou ainda se vive – nas paragens de táxi ou autocarro deve ter se apercebido de que alguma coisa mudou. Em tão pouco tempo, o semblante de muitos ficou mais pesado, demonstrando nas discussões de bairro, nas escolas, redes sociais e noutros ambientes. Num ápice, de um dia para outro, o aumento do preço do gasóleo fez com que milhares de cidadãos voltassem para as calculadoras, fazendo contas à vida.
É que sempre que se observa um acréscimo no valor do combustível, nem que se tenha a vã sensação de que se trata de algo ligeiro, é sempre suficiente para que, em catadupa, se obser- ve dias mais tarde o encarecimento de todos os outros serviços e produtos.
Fixado em 400 kwanzas o litro, mais 100 do que no aumento anterior, foi o suficiente para que se observasse incrementos a nível das tarifas dos transportes públicos e privados, com os taxistas agora a cobrarem 300 kwanzas por uma corrida, até mesmo naquelas parcelas do território em que a distância parece significativa. Já é esperado, para os próximos dias, por mais que não se queira prever, alterações nas corridas interprovinciais, no frete dos camiões que buscam e levam alimentos e outros bens entre a cidade e o campo.
E com isso, indiscutivelmente, haverá, igualmente, um aumento na conta do consumidor final – o pacato cidadão – que verá as suas fi- nanças reduzidas e o consumo excessivamente limitado. Há quem diga que, neste momento, com mais este acréscimo, já se esteja perante o último furo do cinto, não havendo mais espaços para sacríficos excessivos que possam advir de vários aumentos em curto espaço de tempo.
Mas a verdade é que, depois do gasóleo, é expectável que a gasolina também registe uma subida, o que poderá de certo modo apertar ainda mais as previsões de muitos angolanos. Apesar destes aumentos, Angola ainda continua a ser um dos países do mundo com o preço mais baixo de combustível, ou seja, mesmo com os valores cobrados, estamos aquém do valor real, incluindo os derivados importados noutros pontos do continente.
Aliás, um dos factores que fazem com que o contrabando de combustível no país seja ainda uma realidade, porque, nos países vizinhos, o litro de gasóleo e gasolina é vendido a um valor mais alto. Não obstante a retórica económica, que assenta em recomendações internas e externas para a necessidade da retirada da subvenção que o Estado angolano ainda faz em cada litro consumido a nível interno – e também externo, por via do contrabando – há uma realidade socioe- conómica que ainda deve ser acautelada, devido aos fortes impactos que as medidas possam provocar.
Sendo certo que os subsídios, finalmente, vão cair, é crucial que se consiga levar ao conhecimento dos cidadãos, independentemente do seu grau académico ou educação, as razões por trás destes aumentos consecutivos em tão curto espaço de tempo.
É necessário que se bata sempre nesta tecla, mostrando, inclusive, os benefícios que poderão advir da retirada da percentagem que fazia com que o gasóleo e a gasolina fossem mais baratos e a sua futura aplicação em projectos que venham a dar aos angolanos uma vida mais confortável do que a que se tem nos últimos tempos.