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A menina que não quis morrer

Jornal Opais por Jornal Opais
26 de Fevereiro, 2025
Em Opinião
Tempo de Leitura: 2 mins de leitura
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A menina que não quis morrer

Naquela manhã, mãe ajeitou-lhe as tranças, vestiu-lhe o uniforme e despediu-se com um beijo na testa. A menina sorriu, um sorriso leve que parecia flutuar sem dono. — Vai com Deus, minha filha — disse Dona Ana. E a menina foi, como quem parte de um mundo que não lhe pertence. No pátio da escola, os meninos riam.

A vida, para eles, era um brinquedo que não se parte, um jogo que nunca termina. Ora, junto a porta, estava um menino que trazia na mochila um segredo de ferro, um objeto frio, sem vida, que lhe iria oferecer um fardo pesado para carregar a vida toda.

— Olhem o que eu trouxe! — disse o menino, com olhos brilhantes de quem descobre o fogo. Uns hesitaram. Mas a curiosidade, conforme sabemos, tem pressa e a infância não conhece o perigo.

Puff… Um estrondo seco. Um vento quente a cortar o ar. E Vitória caiu. Primeiro, sobre os joelhos. Depois, de braços, como quem decide dormir no chão. Não houve choro. Não houve gemido. Apenas o silêncio de uma vida interrompida.

A escola virou aos gritos. A professora, que ordenava silêncio nos corredores, correu até à sala e viu seus alunos paralisados, viu os livros se fecharem sozinhos, e a menina quieta, vestida de vermelho sobre o branco do uniforme.

No hospital, Dona Ana chegou antes da notícia. Não precisava que lhe dissessem. Mãe sente o que os outros apenas veem. Mas, mesmo assim, ela gritou.

— Chamem minha filha! Chamem Vitória! Ela ainda não aprendeu tudo, ainda não brincou tudo! Além disso, pedi que ela fosse com Deus e voltasse para mim como sempre faz.

O médico olhou para o céu e baixou a cabeça como se tentasse entender onde estava Deus quando a negligência escreveu o destino da menina.

A enfermeira, observando o estado do colega e a desolação de Dona Ana, aproximou-se. — A menina está com Deus, o mundo dos homens não é um lugar para almas tão puras, disse ela segurando a mão de Dona Ana.

Lá fora, os jornais falavam de uma bala vinda de longe. De um assalto, de um desconhecido que atirou e fugiu. Mas nos becos, nos corredores abafados da cidade, outra verdade se espalhava e em sussurros diziam: “Não foi um ladrão. Não foi um disparo de fora. Foi um menino, um igual a ela, que trouxe de casa um perigo que não deveria existir.

Que levou para a escola a irresponsabilidade de um homem de farda, que promete segurança, mas foi incapaz de proteger a sua própria casa”. As autoridades prometeram justiça.

Fizeram inquéritos, reuniões, discursos e discursos, mas Vitória não voltou. Nos dias seguintes, a sua cadeira ficou vazia. Os colegas evitaram olhar para o lugar onde ela deveria estar. A professora sentia dor ao ver o nome Vitória na lista e saber que ela jamais dirá “presente professora”.

A mãe, todos os dias sentava-se à porta com a esperança de ouvir, nem que fosse em sonho, a voz da filha a chamá-la outra vez. A estupidez, mais perigosa que o bandido, continuou viva. Armada e à espreita, esperando a próxima criança para ensinarlhe, da pior forma possível, o peso do descuido.

 

Por: Dito Benedito

Escritor & Jornalista

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