OPaís
Ouça Rádio+
Sex, 26 Dez 2025
  • Política
  • Economia
  • Sociedade
  • Cultura
  • Desporto
  • Mundo
  • Multimédia
    • Publicações
    • Vídeos
Sem Resultados
Ver Todos Resultados
Jornal O País
  • Política
  • Economia
  • Sociedade
  • Cultura
  • Desporto
  • Mundo
  • Multimédia
    • Publicações
    • Vídeos
Sem Resultados
Ver Todos Resultados
Ouça Rádio+
Jornal O País
Sem Resultados
Ver Todos Resultados

Luandino e as Vidas Novas

Jornal Opais por Jornal Opais
6 de Março, 2023
Em Opinião

E ntre as pessoas, há os que nascem em um país e nunca mais deixam de pertencer nestes, e estes são a maioria.

Poderão também interessar-lhe...

O Natal e a sua essência

O agro-negócio industrial como solução para a inflação sazonal na cesta básica em Angola

Guardadores do sábado e a Lei Geral do Trabalho: onde fica a liberdade religiosa no Estado angolano?

Há ainda os que nascem em um, mas passam a pertencer noutros, porque é com estes outros que mais se identificam ao longo da vida.

É neste último grupo que pertence José Vieira.

Nascido em Portugal e apesar de ser Angola colónia portuguesa na época, veio à Angola quando criança e se tornou cidadão angolano pela sua participação na luta da independência.

Tomou, inclusive, Luanda como parte do seu nome e passou a ser Luandino. Luandino quis verdadeiramente ser angolano e achou fundamental aprender o quimbundo.

Aprendeu tanto que deixou estas marcas nos seus vários contos e romances.

No entanto, conhece tão bem o português que chega a complicar a vida do leitor menos culto e do menos atento. Conhece-o e brinca com ele até ao ponto de parecer ser um egoísta.

Luandino não escreve no português de Portugal quer ser Óscar Ribas e não Eça de Queiroz – e por isso tende a ser egoista.

Tenta, assim, recriar a sua língua na língua que falavam os luandenses dos musseques: suprime os pronomes ou, colocando depois do verbo numa conjugação pronominal reflexa, ignora as partículas atrativas.

Quando os usa, usa-os às vezes com exagero: “Menina t´alegra-se”; aplica locuções verbais inapropriadas; faz, regularmente, o uso dos discursos directo e indirecto livre confundindo a voz do narrador com a dos personagens; constantemente personifica os elementos da natureza até as casas e as ruas: por isso que as cubatas se despem, a areia chora, o sol rasga, o vento toca música e as árvores dikanzam; é frequente o mau uso das conjunções; usa a vírgula como e quando lhe apetece; erra de propósito na conjugação, não havendo concordância entre a pessoa e a flexão verbal, e troca regularmente a ordem dos elementos da frase: “e como assim”, na vez de “e assim como”, por exemplo. São, enfim, vários os recursos que Luandino utiliza para inventar a sua própria língua.

Ele conhece a língua e até demais.

Até ao ponto de saber onde a pode deturpar.

Quando são os personagens mais cultos que falam, ele escreve no português culto.

Mas quando é ele mesmo, o narrador, ou os personagens dos musseques, Luandino escreve no português do bairro.

A sua literatura é o resultado do esforço que faz para ser o mais luandense possível.

Para Luandino, a voz do narrador é a voz do povo.

E quando o povo é inculto, o narrador tem de o ser igualmente.

Ocorre-nos apenas uma conclusão: Luandino não queria escrever no português de Portugal, queria definitivamente cortar os laços com a terra dos seus pais, a terra que o viu nascer. Mas é Luandino também um escritor original.

Escreveu sobre prisões quando esteve preso.

Disto surgiu, inclusive, o romance João Vêncio: os seus amores, que escreveu enquanto ouvia todas as experiências com mulheres que o seu colega de prisão lhe contava.

Em Vidas Novas, Luandino reflete seres tristes e revoltados: Dina perde os pais quando criança e é forçada a se tornar prostituta pela madrinha que lhe cuidou, Cardoso Kamukolo, apesar de se conformar com os status quo, sofre com a insastifação das necessidades materiais e tem ainda a esperança de um dia o branco lhe aumentar o salário para poder colocar o filho que muito estima na escola, Nela, filha de pai português, apaixona-se por um revolucionário e começa aos poucos a revoltar-se com a situação que se vive, quando passa a conhecer como é a vida das mães e esposas que visitam familiares presos pela PIDE.

Luandino personifica a natureza não porque simplesmente se sente satisfeito em exagerar no uso das figuras de linguagem, mas porque é assim mesmo que os africanos vêm a natureza, como parte de si mesmos e elementos que interferem na sua vida: choram, falam e cantam, para que tudo em volta deia mais vida à vida que os homens vivem.

A ambiência não se aparta do que sentem os personagens.

No conto sobre o sapateiro Cardoso Kamukolo, Luandino começa com um anúncio profético: “se não matarem todos os monandengues da nossa terra…” que era uma expressão da fidelidade à literatura da época, a literatura da mensagem, quando os escritores, partes fundamental do processo revolucionário, sonhavam com uma Angola livre e justa para os negros donos da terra.

Escreveu: “As noites calmas dos tempos novos em que as pessoas ouvem mesmo o dormir de gato dos motores eléctricos das fábricas a chegar no vento, enchendo os jardins de suas casas com música nova, ou vêem a lua grande e bonita acender o candeeiro dela por cima das lavras de milho grande, mais que um homem, a mandioca a crescer verde como nunca foi…” enfim, chegou a idenpendência mas estes tempos não chegaram, a realidade é outra e o escritor vive agora na sua terra natal, como um cidadão comum. Aliás, por quê negou Luandino Viera o prémio Camões?

 

Por: Ismael Chipululo

Jornal Opais

Jornal Opais

Recomendado Para Si

O Natal e a sua essência

por Jornal OPaís
25 de Dezembro, 2025

O Natal chega todos os anos com a promessa de luz, mas, para muitos, já não ilumina como antes. Há...

Ler maisDetails

O agro-negócio industrial como solução para a inflação sazonal na cesta básica em Angola

por Jornal OPaís
25 de Dezembro, 2025

Em 2025, Angola continuou a lidar com uma inflação persistente, embora em desaceleração, graças a medi das de estabilização macroeconómica...

Ler maisDetails

Guardadores do sábado e a Lei Geral do Trabalho: onde fica a liberdade religiosa no Estado angolano?

por Jornal OPaís
25 de Dezembro, 2025

Angola proclama-se, constitucionalmente, como um Estado laico, fundado no respeito pela dignidade da pessoa humana, pela liberdade e pela igualda...

Ler maisDetails

Gestos natalinos

por Jornal OPaís
25 de Dezembro, 2025

O Natal bate à porta todos os anos, mas nem sempre entra da mesma forma. Para alguns, chega em forma...

Ler maisDetails

Cantor Roxane Fernandez enluta cultura nacional

26 de Dezembro, 2025
DR

Detidos dois cidadãos por posse ilegal de arma de fogo no Lubango

26 de Dezembro, 2025

Marido e esposa em gestação morrem em acidente rodoviário a caminho da maternidade

26 de Dezembro, 2025

ADRA investe cerca de dois milhões de dólares para o financiamento de 12 projectos na Huíla e Namibe

26 de Dezembro, 2025
OPais-logo-empty-white

Para Sí

  • Medianova
  • Rádiomais
  • OPaís
  • Negócios Em Exame
  • Chiola
  • Agência Media Nova

Categorias

  • Política
  • Economia
  • Sociedade
  • Cultura
  • Desporto
  • Mundo
  • Multimédia
    • Publicações
    • Vídeos

Radiomais Luanda

99.1 FM Emissão online

Radiomais Benguela

96.3 FM Emissão online

Radiomais Luanda

89.9 FM Emissão online

Direitos Reservados Socijornal© 2025

Sem Resultados
Ver Todos Resultados
  • Política
  • Economia
  • Sociedade
  • Cultura
  • Desporto
  • Mundo
  • Multimédia
    • Publicações
    • Vídeos
Ouça Rádio+

© 2024 O País - Tem tudo. Por Grupo Medianova.

Este site utiliza cookies. Ao continuar a usar este site, você está dando consentimento para a utilização de cookies. Visite nossa Política de Privacidade e Cookies.