Chegou ao fim mais um capítulo da caminhada dos Palancas Negras rumo ao sonho mundialista. Vinte anos depois da epopeia de 2006, Angola voltou a acreditar. A Nação uniu-se em torno do futebol, vibrou, sofreu e, no fim, ficou com aquele silêncio carregado de “e se…”. Não deu — mas é precisamente aí que começa a próxima etapa.
Agora que a poeira baixou e os reflectores se apagam, é tempo de reflexão, não de lamentos. O futebol angolano precisa de deixar de viver apenas do imediatismo. Sonhar com um Mundial não é proibido, mas só se constrói uma selecção competitiva com trabalho sério, visão estratégica e um plano a longo prazo. A Federação deve ser a primeira a dar o sinal: planeamento, transparência e apoio técnico constante.
O treinador, seja quem for, precisa de tempo e estabilidade para moldar uma equipa. E os jogadores, de comprometimento total — não apenas nas semanas de jogos, mas durante todo o ciclo competitivo.
O segredo do sucesso? A união. Nenhum golo nasce de um só pé, nenhuma vitória vem de um só futebolista. É a entrega colectiva que transforma qualquer talento em triunfo.
E quando essa união se tornar inegociável, o sonho voltará a ser possível — não como um milagre, mas como consequência. O futebol é generoso com quem trabalha de forma honesta.
A história já mostrou que é possível: em 2006 fomos, mas só se compreendermos que o verdadeiro jogo começa agora — nas reuniões de planificação, no compromisso diário de cada parte envolvida.
A Selecção Nacional precisa de um leque mais vasto de opções, com atletas escolhidos não apenas pelo nome ou pelo histórico, mas pelo momento, pela forma física e pelo compromisso com a equipa.
O olhar deve voltar-se também para as selecções Sub-17, Sub-20 e Olímpica. É ali que estão os rostos do futuro. São esses jovens que, bem acompanhados, podem sustentar uma selecção principal sólida dentro de dois ou quatro anos.
Mas é preciso criar um plano, seguir cada passo do seu crescimento e integrá-los num projecto sério de continuidade. Existem talentos angolanos espalhados pelo mundo, a competir em clubes de alto nível, muitos dos quais ainda não se sentiram parte do projecto nacional.
Não basta convocá-los: é preciso criar pontes, mostrar que há espaço para eles, que existe um plano claro onde possam enquadrarse. Se quisermos disputar um Mundial no futuro, temos de começar agora a formar as nossas estrelas.
A formação precisa de investimento e de uma direcção sem curvas nem contra-curvas. Essa responsabilidade é de todos — não apenas da FAF, mas também dos clubes, dos técnicos, dos próprios jogadores e, sim, dos adeptos que continuam a acreditar. Por isso, acredito que o Mundial não seja o fim. Pelo contrário, é um caminho que Angola ainda pode trilhar — com passos firmes e olhos postos no futuro.
Por: Luís Caetano