Até 2002, altura em que o país alcançou a paz, esta era uma das maiores tarefas perseguidas por quem dirigia os destinos de Angola. Não foi em vão que, apesar do fracasso que se observou em variados processos negociais com a UNITA, a uma dada altura foi necessário recorrer-se à guerra para se acabar com a guerra.
Quando o malogrado Presidente José Eduardo dos Santos levantou esta possibilidade, muitos são os que lhe viraram as costas. E pior: quando se traçaram os três cenários sobre o que se poderia esperar do então líder da UNITA, Jonas Savimbi, muitas foram as vozes contrárias, incluindo no Ocidente. Mas a verdade é que, após a aniquilação destes, Angola conseguiu alcançar a almejada paz.
Até aos dias de hoje. A paz abriu caminho para outras frentes, algumas das quais eram por demais evidentes. O próprio Presidente José Eduardo dos Santos dissera, momentos depois, que a corrupção era o segundo mal depois da guerra, demonstrando assim o complexo fenómeno que ainda vivemos até aos nossos dias.
Durante décadas, sempre que se falasse de corrupção, era comum que surgisse o nome de Angola. Pontificava nos rankings internacionais como um dos piores países do mundo. Estamos ainda lembrados de que o músico Bob Geldof disse, numa determinada fase, que Angola era governada por criminosos, uma opinião que mereceu duras críticas.
Embora pudessem ter existido alguns passos tímidos em determinadas ocasiões, a verdade é que não houve, até antes da entrada em cena do Presidente João Lourenço, acções concretas que visassem a corrupção. Durante muitos anos, foram vários os cenários exibidos, muitos dos quais se pareciam mais com tapetes vermelhos em que muitos poderiam passear à vontade, uma verdade alicerçada pela famosa acumulação primitiva de capital.
É por isso que o combate empreendido há alguns anos teve, sempre, a sua razão de ser, independentemente das conclusões a que muitos pensam ter chegado. Os resultados alcançados, vistos como efémeros por alguns, são o possível se se tiver em conta que eles não dependiam só daqueles que lideram tal processo, como também dos que durante anos a fio dilapidaram o erário.
Na entrevista que concedeu à CNN, há cerca de duas semanas, o Presidente João Lourenço garantiu que o combate à corrupção está ser mais difícil do que se previa inicialmente. Até ao momento, o país já conseguiu, por exemplo, recuperar mais de sete mil milhões de dólares norte-americanos, embora se esperasse muito mais a julgar pelos valores que se acredita terem sido desviados por antigos gestores, governantes e até mesmo políticos.
Mais do que uma simples questão política ou jurídica, o combate à corrupção passaria também por uma situação de amor à pátria por parte daqueles que saquearam as suas finanças e levaram ao exterior.
Recordo-me de que, quando se trouxe à praça a necessidade de um processo de repatriamento de capitais, houve por parte da oposição uma série de acusações ao Executivo, liderado pelo MPLA, de ter criado uma legislação extremamente branda porque parecia ser um tapete vermelho para que os donos das grandes fortunas ficassem com o dinheiro.
Nem com isso, muitos dos que se apoderaram dos fundos públicos preferiram trazer de volta as fortunas que esconderam no exterior, incluindo em paraísos fiscais. Para eles, é dinheiro que deve ser defendido a ferro e fogo, apesar das facilidades apresentadas na altura.









