Há momentos em que um País deixa de apenas organizar acontecimentos e passa a produzir sentido histórico. O que se vive em Luanda nestes dias de Dezembro pertence a esse tempo raro em que o presente deixa marcas no futuro. Não é apenas desporto. É uma afirmação silenciosa de valores, escolhas e visão. Num mundo saturado de ruído, polarização e imediatismo, ver milhares de jovens africanos reunidos em torno de regras comuns, respeito mútuo e espírito de superação é um acto profundamente educativo.
Aqui, aprende-se que a unidade não nasce de discursos grandiosos, mas de práticas simples repetidas com rigor: chegar a horas, competir com lealdade, aceitar a derrota, reconhecer o mérito do outro. A juventude africana que hoje corre, salta, pedala, luta e coopera em Luanda está a aprender algo que nenhum manual ensina plenamente: pertencer. Pertencer a um continente diverso, mas unido por princípios.
Pertencer a uma geração que percebe que o futuro não se herda — constrói-se. O desporto revela aqui a sua função mais nobre. Não como espectáculo vazio nem como vaidade passageira, mas como escola de carácter. Disciplina, resiliência, auto-controlo, serviço. Fazer bem sem excesso. Priorizar o essencial. Cuidar primeiro das pessoas e só depois da imagem. Esta escolha ética, num tempo de ostentação global, é uma forma discreta de liderança. Há, neste caminho, uma metáfora profundamente angolana.
Tal como a mulemba, árvore que cresce devagar mas oferece sombra duradoura, estas opções privilegiam o que permanece em vez do que impressiona. E como o rio Kwanza, que atravessa o País ligando margens diferentes, estes dias criam uma corrente contínua entre infância e maturidade, entre sonho e responsabilidade, entre o local e o continental. O verdadeiro impacto não está apenas nos resultados afixados nos quadros.
Está nas memórias que cada jovem levará consigo: a sensação de ter sido acolhido, a experiência de segurança, o sentimento de dignidade. Essas memórias são sementes. Amanhã, transformar-se-ão em escolhas, atitudes e lideranças. Há também uma lição silenciosa sobre tempo. Num mundo obcecado com velocidade, estes dias lembram que a formação exige paciência. Que não se constrói excelência por atalhos.
Que o verdadeiro progresso é cumulativo, feito de pequenos gestos correctos repetidos todos os dias. A juventude aprende, assim, que vencer não é apenas chegar primeiro, mas chegar inteiro. Este movimento juvenil é igualmente um acto de confiança no futuro africano. Confiança de que o continente não está condenado a repetir crises, mas é capaz de gerar cooperação, regras e convivência saudável.
Confiança de que a próxima geração poderá liderar com mais consciência, mais empatia e mais responsabilidade do que a anterior. Quando um País cria espaço para que os seus jovens se encontrem, compitam e se respeitem, está a fazer política no seu sentido mais elevado. Não a política do conflito, mas a política da construção. Não a do curto prazo, mas a da herança.
Não a do aplauso fácil, mas a do impacto duradouro. Num tempo em que tantas sociedades parecem ter perdido referências claras, a juventude recorda-nos algo essencial: o futuro não se improvisa.
Constrói-se. Com regras justas. Com valores partilhados. Com instituições que escolhem a seriedade em vez do improviso, a simplicidade em vez do desperdício, o trabalho em vez do ruído.
Quando África investe assim na sua juventude, não está apenas a organizar Jogos. Está a escrever narrativa. Está a afirmar que acredita em si própria. Está a dizer, com actos e não com slogans, que o século XXI também lhe pertence. Hoje, a juventude move-se. E quando a juventude se move, o futuro aprende a caminhar.
Por: EDGAR LEANDRO
Juventude em Movimento, África Unida.









