O filósofo e político romano Cícero escreveu há mais de dois mil anos que “desconhecer a história é permanecer criança para sempre”. Esta ideia ajuda a compreender a essência do jornalismo, uma actividade que exige memória, rigor e responsabilidade. O compromisso com a história e com a verdade orienta todos os seus géneros, entre eles o Editorial. Mesmo já tendo existido antes do surgimento da “Acta Diurna” (59 a.C.), considerada como o primeiro “boletim informativo” público, o jornalismo éa actividade técnica caracterizada por compromisso ético.
Para Nelson Traquina (2005), o jornalismo é também uma actividade intelectual, na medida em que exige selecção, interpretação e contextualização dos factos de interesse público. Em outras palavras, o jornalismo é uma actividade que se destaca pela busca da verdade factual e pelo dever de servir ao interesse público.
A sua principal função é transformar acontecimentos em informações úteis, oferecendo ao cidadão elementos para compreender a realidade e participar de forma consciente na vida pública. Desta feita, é dividido em géneros jornalísticos, entre os quais estão a Notícia, a Reportagem, a Opinião, a Entrevista e o Editorial. Este último, por sua especificidade, é comum ser percebido na imprensa escrita. Como os outros géneros, Editorial tem uma estrutura própria.
No entanto, os autores clássicos defendem que não deve ser assinado por representar a posição do órgão. No jornalismo impresso, como acontece na nossa realidade, quem redige e assina são os directores. Isso pode ser visto em jornais como o Jornal OPAÍS, Expansão e Novo Jornal, apenas para citar alguns exemplos, que mostram o posicionamento do órgão sobre o assunto em questão.
De todos os géneros, o Editorial é o que mais reflecte elementos da retórica aristotélica, tendo a seguinte estrutura, título, que resume com precisão o tema central; introduçã o, onde se faz a exposiçã o sintética do facto a ser abordado; discussão, em que o editorial apresenta opiniões favoráveis e contrárias conhecidas sobre o tema, analisando e interpretando os diferentes aspectos do assunto; e, por último, a conclusão, que traz a posição do órgão sobre a matéria em análise.
Na televisão ou no rádio, esse género é reservado para situações de tensão pública, ataques à credibilidade do órgão ou a temas complexos que exigem uma explicação imediata. A elaboração é da responsabilidade do Director de Informação ou de uma equipa de editores experientes.
A leitura é normalmente feita pelo apresentador do principal serviço noticioso. O Editorial é uma peça curta, clara e directa, destinada a orientar o público e a expressar a posição institucional, jamais para provocar confronto.
Para Beltrão (1980), existem quatro atributos indispensáveis para elaboração de um Editorial, nomeadamente a impessoalidade, que se refere ao facto de ser um texto que representa a instituição; a topicalidade, que se ocupa em oferecer a definiçã o exata e precisa do tema em questão; a concisão, que diz respeito à brevidade expressiva do género, no sentido de sintetizar as informaçõ es, com ênfase maior nas afirmaçõ es do que nas demonstraçõ es; e, por último, a plasticidade, que é a qualidade de orientar ou persuadir o leitor com flexibilidade, sem dogmatismos.
O caso mais recente que reacendeu o debate sobre a função do Editorial é o texto lido pelo veterano jornalista da Televisão Pública de Angola (TPA), Ernesto Bartolomeu, no Telejornal do dia 12 de Novembro, em resposta às declarações do candidato presidencial do partido português Chega, André Ventura.
Embora legítimo, o Editorial afastou-se das normas tradicionais do género ao incorporar juízos previsivos e expressões de carácter pessoal ao afirmar que Ventura “não vai vencer as eleições e, caso vença, vai governar as cabras da Beira Baixa”.
Ao redigir um Editorial, é necessário ter contenção e autoridade. Deve sempre responder com serenidade, corrigir possíveis equívocos e reafirmar valores editoriais, evitando previsões ou julgamentos que possam afectar a imparcialidade. Quando elaborado com rigor, o Editorial fortalece a credibilidade do órgão, orienta o público e reafirma o compromisso do jornalismo com o interesse público, fazendo jus à sua missão sacerdotal.
Por: Olívio dos Santos
Consultor de Comunicação Integrada









