Desde os primórdios da nossa democracia, sempre vi no desporto um dos últimos bastiões da liberdade de expressão genuína. Um espaço onde, mesmo nos momentos mais duros da nossa história, foi possível debater com frontalidade, sem tabus, com paixão e, acima de tudo, com respeito.
O desporto angolano cresceu assim: entre vitórias e derrotas, entre glórias e frustrações, mas sempre com a chama da esperança acesa no peito de atletas, dirigentes, jornalistas e adeptos. É por isso que, nestes cinquenta anos de Independência Nacional, olho para o percurso do nosso desporto com orgulho. Não foi um caminho fácil, mas foi um caminho feito com suor, com lágrimas, com talento e com muita entrega.
Do andebol ao basquetebol, do atletismo ao karaté, do futebol ao xadrez, temos heróis e conquistas que marcaram gerações, que nos representaram com dignidade, que elevaram a bandeira nacional nos palcos mais exigentes.
Contudo, nos dias que correm, há algo que me preocupa profundamente: a tendência cada vez mais frequente de descredibilizar as nossas conquistas. Assistimos, principalmente nas redes sociais, ao surgimento de vozes que, longe de contribuir para a crítica construtiva, preferem alimentar o descrédito, promover informações distorcidas e apagar, com uma só frase, o esforço de anos de trabalho.
Esses “bota-abaixo”, como carinhosamente os chamamos, esquecemse de que o desporto é feito de pessoas, jovens que deixam as famílias para treinar, técnicos que sacrificam fins de semana, profissionais que trabalham para garantir que tudo funcione. Ignoram o papel social que o desporto desempenha nas comunidades, nas escolas e nos bairros, transformando vidas. Claro que há falhas, e elas devem ser apontadas. Mas apontar falhas não é o mesmo que desvalorizar tudo.
Não podemos permitir que a politiquice se sobreponha ao espírito desportivo. O desporto não é trincheira para guerras ideológicas, é campo de superação e palco de esperança. Precisamos de recuperar o respeito pelo que é nosso, de valorizar mais os nossos atletas, de proteger as suas histórias e de apoiar as suas causas.
A crítica será sempre bem-vinda quando construtiva, mas o que não podemos aceitar é o ódio disfarçado de opinião, nem a desinformação servida como verdade. Abaixo os bota-abaixo. Viva o desporto angolano. Viva a nossa juventude que corre, salta, luta e sonha.
E que, nos próximos cinquenta anos, continuemos a construir um legado onde a paixão fale mais alto do que a maledicência, e onde a honra de representar Angola seja sempre o maior dos troféus.
Por: Luís Caetano









