No campo da Linguística, uma das políticas que se deveria estabelecer, com o intuito de descolonizar a mente de muitos africanos alienados, seria a de reformular os pensamentos segundo os quais nomes como “Adlison Meireles”, “Gabriel Magalhães”, “Gerson”, “Uriela” e “Jackson” são mais nobres e adequados para serem atribuídos aos nossos filhos, em detrimento de “Cacinda”, “Cinbalandongo”, “Kakueia”, “Katimba”, “Ngueve” e tantos outros.
A mente do colonizado angolano está, por vezes, tão corroída que, numa sala de aula — no momento em que se levantam as presenças —, ouvem-se risos de uns em rlação aos outros apenas por causa do nome. Isso ocorre porque os próprios funcionários da Conservatória do Registo Civil, responsáveis por preservar identidades, recusam preencher formulários de nascimento com nomes genuinamente bantos. Preferem, por sinal, “Mariclene” em vez de “Hoci” ou “Katimba”, considerando estes últimos “feios” ou “impróprios”.
Recordo-me, neste contexto, de uma pequena mas profunda obra literária, na qual, num diálogo entre o escravo e o seu senhorio, este perguntou-lhe: — Que nome de cão era o teu? — X — respondeu o escravo. — E que nome te foi atribuído de- pois do baptismo? — X — acrescentou. — Ah, ainda bem que agora tens nome de pessoa. Esse diálogo, breve mas incisivo, ilustra uma ferida ainda aberta: a negação simbólica da nos- sa própria identidade.
É o mesmo fenómeno que hoje se repete quando crianças ou adolescentes se envergonham dos seus nomes, acreditando que o nome do seu actor predilecto seja “melhor” que o seu. Ignoram que um nome carrega histórias, costumes, hábitos e culturas; não compreendem que, além de simples designação, é identidade, consciência, gastronomia e tradição.
Mais grave ainda é ver que aqueles que deveriam preservar esses valores — pais, educadores e líderes — são os primeiros a substituí-los por nomes fictícios de actores da Marvel ou de novelas estrangeiras, acreditando que assim evitarão o bullying. E a sociedade, já corrompida pela mediocridade, rir-se-á do Cilume e do Cinanga, mas aplaudirá o Carlos, o Mendes, o Nelson e tantos outros.
Por isso, precisamos de ser cultores dos nossos próprios hábitos e costumes — cultura e tradição. Devemos expandir essa consciência nos ambientes socioculturais: escolas, igrejas, hospitais e todos os lugares onde se agregam pesso- as, sobretudo africanas. É urgente valorizar-se por ser chamado e tratado pelo próprio nome, sem ultrajar nem subjugar o outro, pois qualquer forma de preconceito nominal deve ser combatida e erradicada de imediato.
POR: GABRIEL TOMÁS CHINANGA









