OPaís
Ouça Rádio+
Sáb, 20 Dez 2025
  • Política
  • Economia
  • Sociedade
  • Cultura
  • Desporto
  • Mundo
  • Multimédia
    • Publicações
    • Vídeos
Sem Resultados
Ver Todos Resultados
Jornal O País
  • Política
  • Economia
  • Sociedade
  • Cultura
  • Desporto
  • Mundo
  • Multimédia
    • Publicações
    • Vídeos
Sem Resultados
Ver Todos Resultados
Ouça Rádio+
Jornal O País
Sem Resultados
Ver Todos Resultados

O preço da liberdade e o dever patriótico

Paulo Sérgio por Paulo Sérgio
13 de Junho, 2025
Em Opinião

A liberdade, depois da vida, é talvez um dos bens mais preciosos que o ser humano possui. Não é por acaso que é justamente esse direito que se perde quando alguém comete uma infração grave — seja ela de foro criminal ou civil.

Poderão também interessar-lhe...

O editor como última linha de defesa da informação

A modernização com características chinesas aos meus olhos

Chegou a minha vez

Aliás, no campo civil, a restituição do bem subtraído passou a ser uma condição sine qua non para se alterar a medida de coação. Contudo, quando se aplicam medidas de coação mais gravosas — como o termo de identidade e residência, a prisão preventiva ou a prisão efectiva —, elas incidem directamente sobre esse bem maior: a liberdade.

Para compreender plenamente o valor da liberdade — essa que muitos ainda colocam em risco por ganhos materiais para exibir um “status” indevidamente ou pelo prazer momentâneo de causar sofrimento a outrem —, é preciso recuar estrategicamente ao período da luta de libertação nacional.

O cenário escolhido para esse recuo é Nambuangongo, território que foi a 1.ª Região Político-Militar do MPLA. De lá, embarcamos numa viagem histórica que pode estender-se até à enigmática e cosmopolita cidade de Kinshasa, na vizinha República Democrática do Congo (RDC).

A época? A década de 1960, culminando no momento em que, a 11 de Novembro de 1975, os angolanos conquistaram o direito de serem considerados um povo livre — livres do colonialismo e donos do seu próprio destino. Mas o caminho até à histórica noite da independência foi penoso.

Um sofrimento que nós — pais de filhos que hoje crescem num país livre — mal conseguimos imaginar. Nos recusamos sequer a pensar o que seria ver os seus filhos, adolescentes de 13 anos, obrigados a erguer com as próprias mãos uma casa de pau-a-pique nas matas de Nambuangongo, enfrentando o frio cortante das noites de cacimbo ou a chuva, os animais selvagens e o medo constante da guerra. Para o efeito, contou com o apoio da sua mãe.

Num tempo em que a chuva podia ser bênção para a lavoura, mas também maldição: penetrava pelos tetos de capim mal cobertos, encharcava os pisos de terra batida e forçava famílias inteiras a passarem as noites em pé, sem dormir, se encolhendo num espaço minúsculo para evitar o contacto com a água.

Foi nesse ambiente hostil que muitas famílias viveram como autênticos nómadas durante a guerra de guerrilha contra o colonialismo, atravessando as florestas densas da província do Bengo, isto é, de Nambuangongo e dos Dembos.

Entre essas famílias estava a de um adolescente de 13 anos, que teve de construir uma casota para abrigar a mãe, duas irmãs menores, uma sobrinha de sete anos e uma prima.

Fugiam dos bombardeamentos da Força Aérea Portuguesa, que, numa madrugada por volta das 5h30, destruíra o seu quilombo — com o objectivo de ceifar a vida dos guerrilheiros que faziam parte desta comunidade.

Entre eles estava o pai do menino, que, junto com os outros chefes de família, tentava travar o avanço por terra do exército inimigo, distante da zona residencial. O “adolescente construtor” nunca esqueceu os gritos, a imagem das pessoas desesperadas e dos corpos caídos no chão da floresta, alguns já sem vida. Os feridos clamando por socorro — muitos dos quais não puderam ser ajudados — ainda se encontram escondidos na sua memória de meninice.

A decisão de se refugiar nas matas de Nambuangongo foi motivada pela escolha do pai, que, em Julho de 1961, decidiu juntar-se à luta armada, levando consigo toda a família. A forte ligação da população local à Igreja Metodista Unida — da qual o reverendo Pedro Agostinho Neto, pai do futuro Presidente Agostinho Neto, fora um nome de referência — contribuiu para a adesão ao MPLA.

Pois, o nome de Agostinho Neto já era amplamente conhecido e respeitado entre os líderes comunitários e religiosos, apesar de não o conhecerem pessoalmente. Facto que atraiu muitos jovens e adultos daquela região a Brazzaville, onde o MPLA estava sediado, para se alistarem na luta.

Carregavam consigo a esperança de dias melhores e a tristeza de deixar a família, sem certeza de que voltariam a reencontrá-la completa. Porém, a travessia da floresta de Nambuangongo até à fronteira com a RDC era uma verdadeira odisseia, repleta de riscos, emboscadas e ataques, tanto do exército português quanto de guerrilheiros da UPA/FNLA.

Oito dos seus companheiros de caravana perderam a vida, dos quais cinco foram baleados mortalmente e três afogaramse no momento em que faziam a travessia do rio Mbridge.

Houve uma situação em que tiveram de abandonar um amigo, ferido por balas, à mercê da selva. Mas aquele jovem, que começara como um “construtor de casota”, sobreviveu.

Em Kinshasa, deu sequência aos estudos e, com muito sacrifício, formou-se em jornalismo, enquanto trabalhava como segurança, primeiro de uma oficina e mais tarde de uma residência.

De regresso a Angola, formouse em Direito e tornou-se político, escritor e diplomata de carreira. Foi jornalista da RNA, vice-ministro e ministro das Relações Exteriores, bem como governador do Bengo.

Hoje responde pelo nome de João Bernardo de Miranda (o homem na foto, tirada nos tempos de estudante em Kinshasa). A sua história é contada com detalhes na autobiografia “Percurso de um Combatente: feitos e testemunhos principais”.

Trata-se de um testemunho vivo do sacrifício que marcou o caminho da nossa liberdade. Hoje, em 2025, quando Angola se prepara para assinalar 50 anos de Independência Nacional, é essencial lembrar que a liberdade que temos — consagrada na Constituição como princípio fundamental — foi conquistada com sofrimento.

Não se trata apenas da liberdade de expressão, religião, associação ou circulação. É a liberdade de existir com dignidade. E com ela vem um dever patriótico: trabalhar para o desenvolvimento deste país que se chama Angola.

*Jornalista

Paulo Sérgio

Paulo Sérgio

Recomendado Para Si

O editor como última linha de defesa da informação

por Jornal OPaís
19 de Dezembro, 2025

O jornalismo não se sustenta apenas na notícia que chega ao público. Existe um trabalho silencioso, rigoroso e muitas vezes...

Ler maisDetails

A modernização com características chinesas aos meus olhos

por Jornal OPaís
19 de Dezembro, 2025

O primeiro contacto que tive com a China não foi físico, mas simbólico. Era uma manhã comum em Luanda, e...

Ler maisDetails

Chegou a minha vez

por Jornal OPaís
19 de Dezembro, 2025

Chegou a minha vez. Tudo que tem princípio tem fim; estou de malas aviadas, no “modo avião”, de regresso à...

Ler maisDetails

Todos por Angola, rumo ao CAN!

por Jornal OPaís
19 de Dezembro, 2025
Foto de: DANIEL MIGUEL

Estamos a poucos dias de mais uma grande celebração do desporto-rei no nosso continente. O CAN 2025, que terá lugar...

Ler maisDetails

Incêndio destrói 21 autocarros da TCUL no Cazenga

19 de Dezembro, 2025

PR decreta luto nacional pela morte de Fernando da Piedade Dias dos Santos

19 de Dezembro, 2025

Governador do Moxico convoca IIª Sessão Ordinária do Conselho Provincial

19 de Dezembro, 2025

Chuvas matam mais de 50 pessoas em cinco meses no Huambo

19 de Dezembro, 2025
OPais-logo-empty-white

Para Sí

  • Medianova
  • Rádiomais
  • OPaís
  • Negócios Em Exame
  • Chiola
  • Agência Media Nova

Categorias

  • Política
  • Economia
  • Sociedade
  • Cultura
  • Desporto
  • Mundo
  • Multimédia
    • Publicações
    • Vídeos

Radiomais Luanda

99.1 FM Emissão online

Radiomais Benguela

96.3 FM Emissão online

Radiomais Luanda

89.9 FM Emissão online

Direitos Reservados Socijornal© 2025

Sem Resultados
Ver Todos Resultados
  • Política
  • Economia
  • Sociedade
  • Cultura
  • Desporto
  • Mundo
  • Multimédia
    • Publicações
    • Vídeos
Ouça Rádio+

© 2024 O País - Tem tudo. Por Grupo Medianova.

Este site utiliza cookies. Ao continuar a usar este site, você está dando consentimento para a utilização de cookies. Visite nossa Política de Privacidade e Cookies.