Num pequeno município do país, um cidadão madruga para garantir atendimento num balcão público. Apesar da espera, saí de mãos vazias e de alma cansada — não por falta de recursos, mas por ausência de escuta, empatia e compromisso.
Essa experiência, infelizmente comum, revela que os maiores desafios da administração pública não são apenas estruturais, mas comportamentais. A Lei da Probidade Pública, aprovada em 2010, é um marco importante que visa assegurar condutas éticas entre servidores e agentes públicos.
Contudo, mais do que leis, é preciso formar consciências e inspirar atitudes que sirvam ao bem comum com dignidade. Neste artigo de opinião, inspirado na obra Os 7 Hábitos de Pessoas Altamente Eficazes, de Stephen R. Covey, a autora propõe uma reflexão sobre seis princípios fundamentais que podem nortear a transformação comportamental dos servidores, em prol da ética, da transparência e do serviço ao cidadão; em simultâneo fomentar uma nova cultura de atendimento público mais humano, transparente, eficiente e justo.
1. Ser Proactivo: O Futuro Começa com a Minha Escolha Ser proactivo é decidir com coragem e responsabilidade, em vez de reagir com desculpas. Num serviço onde “sempre foi assim” ainda ecoa com força, a proactividade rompe ciclos de inércia e inaugura posturas de iniciativa, melhoria contínua e foco em soluções. Um servidor proactivo não espera mudanças — ele é a mudança.
2. Começar com o Fim em Mente: Visão Clara, Propósito Nobre Servir é muito mais que cumprir tarefas; é impactar vidas. Começar com o fim em mente significa alinhar cada acção ao propósito maior: garantir dignidade e bem-estar ao cidadão. Servidores que compreendem isso planeiam melhor, priorizam com sabedoria e resistem à tentação dos atalhos fáceis ou das recompensas imediatas. Eles agem com visão de Estado, isto é, de servidores públicos e não com interesses pessoais.
3. Estabelecer Prioridades: Fazer Primeiro o Mais Importante Com recursos escassos e demandas crescentes, é imperativo saber dizer “não” ao que distrai e “sim” ao que transforma. Administrar tempo e energia com sabedoria é uma expressão de respeito ao dinheiro público e à população. A verdadeira eficiência nasce quando se prioriza o que realmente importa para o bem colectivo.
4. Pensar em Ganhar-Ganhar: O Estado e o Cidadão Podem Crescer Juntos A lógica da competição, do favoritismo e do “cada um por si” não cabe mais numa administração moderna. A cultura do ganhaganha convida o servidor a cultivar empatia, escuta e criatividade na resolução de conflitos. Um servidor ganha-ganha busca soluções onde todos progridem, onde o Estado se fortalece ao servir melhor — e não ao se impor.
5. Primeiro Compreender, Depois Ser Compreendido: A Escuta como Acto de Serviço Escutar é uma das formas mais puras de servir. Antes de oferecer soluções padronizadas, é preciso entender as reais dores e necessidades de quem procura os serviços públicos. A escuta activa, sem julgamentos ou pressa, constrói confiança e revela caminhos mais eficazes. Um servidor que compreende primeiro, transforma sua comunicação em ponte — não em muro.
6. Sinergia: Juntos Somos Mais Fortes e Mais Eficazes A sinergia é a arte de somar talentos, respeitar diferenças e construir soluções em conjunto. A cultura do “cada sector por si” ou ainda “a minha área faz bem a sua parte” compromete resultados, gera retrabalho e desgasta o cidadão.
Equipes coesas e colaborativas são mais criativas, produtivas e humanas. A humildade para ouvir o outro e a grandeza de reconhecer seus méritos são sinais de uma nova ética administrativa.
Uma nova cultura começa em mim! Esses hábitos não são apenas boas práticas — são chamados ao protagonismo ético, à responsabilidade com o futuro da nossa Pátria amada.
O servidor público, em qualquer função ou hierarquia, é um semeador de justiça, integridade e esperança. Como ensina o Livro de Lucas 16:10 Quem é fiel no pouco, também será no muito; cada pequeno acto de probidade, cada gesto de escuta e empatia, cada escolha pela legalidade e pela excelência, é uma semente que prepara um novo amanhã — um amanhã de confiança, respeito e dignidade para todos os cidadãos.
Por: SELMA ARAGÃO