Dois homens, um encontro. Era quase que inevitável. Nem tanto pelo clamor que a sociedade fazia depois do acidente do fatídico sábado da última semana, mas por conta do acto heróico protagonizado pelo jovem Mateus Domingos Oficial ‘Matilson’, que ontem foi recebido pelo ministro do Interior, Manuel Homem.
Apesar do número de vítimas, duas, na sequência de afogamento depois de o autocarro ter entrado para a vala na Avenida Deolinda Rodrigues, outras pessoas teriam perdido também a vida não fosse o envolvimento de indivíduos que se encontravam no local, com particular destaque para aquele herói impro- vável, que se destacou retirando alguns dos sobreviventes.
Por ironia do destino, o nosso herói, que num gesto de socorro acabou por mobilizar a sociedade a seu favor, tem o sobrenome Oficial. Não que seja oficial superior de qualquer corporação, mas é o apelido que terá herdado do seu progenitor.
E foi este facto que, inicialmente, ontem fez com que o próprio ministro do Interior, Manuel Homem, lhe dissesse que ‘começou bem’. Ao longo do fim-de-semana, foram várias as mensagens de incentivo e sugestões sobre o que se deveria fazer com o jovem Matilson.
Houve os que defenderam a sua condecoração no âmbito dos 50 anos de independência, por ter liderado um movimento que culminou com a salvação de mais de 30 pessoas. Para estes, o facto de muitos chefes de Estado noutros países terem condecorado jovens voluntariosos como o nosso Salvador pode ser um paradigma a ser seguido.
Para outros, não havia dúvidas de que Matilson tinha que ser incorporado imediatamente nas hostes da Polícia Nacional, no Serviço de Protecção Civil e Bombeiros, devido ao seu feito heróico, em que actuou como se de um integrante da equipa já fosse naquele momento.
No leque de opiniões lidas, houve também quem tivesse questionado se se tinha certeza de que o sonho deste rapaz passava pelas sugestões que a própria sociedade fazia para a vida dele. Afinal, distante da coragem que demonstrou e da prontidão com que acorreu ao local do incidente, segundo registos, estamos diante de um menor de idade ainda. Ele só tem 17 anitos, embora tenha uma coragem que muitos homens de barba rija não conseguem demonstrar.
A boa acção é desinteressada, porque nem sequer previa que a repercussão seria a que se vê hoje, fizeram de Matilson não só um herói dos nossos dias, como também lhe abriram as portas para o inimaginável. Do rapaz, provavelmente sem um futuro risonho, que se jogou na água de coração puro, saiu um homem que tem agora quase todas as portas abertas para o mundo.
Do ministro do Interior, recebeu a promessa, devido ao pedido da sua família, de ser acompanhado na escola Ekuikui para aprender os passos iniciais para que um dia, além do sobrenome, Matilson venha a ser um verdadeiro oficial da corporação. E, seguramente, os bombeiros teriam muito gosto em ter no seu seio quando atingir a idade adulta, nos próximos tempos.