Há muito que não cruzo com o Pedro Cristina, o homem dos Rallys e dos RAID TT. Um verdadeiro homem de estrada e um aventureiro na verdadeira acepção da palavra.
Foi graças a ele e ao saudoso Minhoca que pude, junto com o meu colega Jacinto Figueiredo, visitar o conhecido Bico de Angola.
É mesmo aquela parte do país lá abaixo, na zona Sul, na agora província do Cuando, com uma imagem de bico, tida por muitos como inacessível, mas não.
Foi uma viagem e pêras. Com passagens por Menongue, Savate, Caiundo, Katuitui, Rundu, Cheto. Estas três do lado namibiano.
Foram mais de dois dias de estrada, numa fase em que o país ainda dava passos em termos de reconstrução das vias. Mas isso não nos inibiu de conhecer esta parte de Angola, assim como a Jamba, o antigo quartel-general da UNITA, nos tempos da guerra, onde acabamos por pernoitar sob um intenso frio.
Mais do que os escombros de infra-estruturas que vimos do lado angolano, sobretudo, naquela época, foi deslumbrante contemplar a enormidade das riquezas a nível da fauna e da flora que há muito deveriam servir de portas de entrada de divisas através do turismo no conhecido Okavango.
Não era preciso esforço para se ver próximas manadas de elefantes e outros animais, alguns dos quais haviam migrado antes para as repúblicas vizinhas da Zâmbia, Botswana e até mesmo Namíbia.
Desde então, aumentou o meu enorme interesse por tudo o que se associava ao projecto Okavango, porque os outros países que integram o referido delta há muito que retiram proveitos, estimados mesmo em largos milhões de dólares por intermédio de safaris, lodges, acampamentos e outros projectos turísticos que os países vizinhos construíram com mestria e gerem com enorme experiência.
Quem vê o que está do outro lado, perguntar-se-á sempre: o que falta para que o mesmo aconteça em Angola? Isto é o surgimento de um verdadeiro sector turístico rural e não só, que possa também alavancar as comunidades locais e ser um chamariz para os milhares de turistas estrangeiros que fluem regularmente em países que nem sequer têm o grosso das potencialidades que Angola naquela região possui.
Apercebi-me ontem de um projecto que o Estado angolano deverá implementar com uma instituição de um dos países que compõem a região de Okavango para partilha de experiência e alavancar as referidas comunidades. Tomara que desta vez se consiga, finalmente, descolar para o bem da região.