A Kitota é a minha vida. Localizada na Comuna da Quizenga, Município de Cacuso, província de Malanje, foi lá que nasci, o meu umbigo caiu ali, há mais de seis décadas. Embora a velhice seja uma sacanagem, o meu sonho de menino segue vivo; quero regressar às minhas origens, contribuir para o bem-estar da maioria.
Tenho convicções firmes, preparei-me no tempo, sem alucinações para trabalhar em equipa, ajudar na melhoria contínua do sistema de ensino, saúde, habitação, desporto, cultura, recreação e do policiamento de proximidade, viver com tranquilidade, na paz do Senhor.
Quero regressar ao meu kimbo, erguer a minha casa da velhice, assistir à missa na Igreja Metodista, ao domingo, participar de projectos e causas filantrópicas nobres, inscrever o meu nome na lista de fazedores da Kitota — um bom lugar para viver.
A decisão vem de longe, não é produto de desengano ou desespero. Sonho voltar a respirar ar puro, continuar a resistir como gente, dar novo fôlego e alento à minha vida. Cansei dos dias que não passam, de um tempo esquecido na prateleira, em tom de afronta, ainda que mínima, num cenário tenebroso, sem qualquer expectativa.
A leveza sempre foi uma bússola para quem observa o mundo pela janela, atento, mas sem urgência. É quase uma conversa invisível que, às vezes, vem de lembranças e de sonhos, é a vida.
O meu sonho vem desde criança; sempre gostei da ideia do tempo circular, de ser proactivo, voltar aos mesmos lugares, cada vez com um olhar diferente, nascido de algum impulso que toca no que sinto.
O reencontro com a Kitota faz parte da minha natureza, da minha dimensão espiritual, é a afirmação de continuidade na minha formação humana, um momento de resgate de uma parte da minha própria história.
Não sou de me prender ao passado, não gosto de caminhar sem estratégia. Esta revisita é algo rarefeito porque não busco o estrelato, quero apenas ser eterno pela simplicidade.
Por: João Rosa Santos









