Ofutebol não é só bola no pé, é ciência, estratégia, ritmo e tempo. Tempo, esse ingrediente invisível, mas essencial. E quando falamos do CHAN 2024, há uma verdade que salta aos olhos: Angola chega tarde à sua própria preparação.
No desporto, como na vida, o tempo é um recurso precioso e irreversível. Quando mal aproveitado, torna-se um adversário cruel. E é com esse adversário que Angola parece entrar em campo rumo ao CHAN.
Com o arranque dos treinos a 17 de Julho e o primeiro jogo diante de Marrocos no dia 3 de Agosto, o cronômetro já soa como um alarme. Pior ainda: os jogadores vêm de mais de dois meses sem competição, desde o fim do Girabola.
É como pedir a um corredor olímpico que vença uma maratona após semanas de sofá, é injusto com o atleta, com o treinador e com o país. A não participação da selecção do CHAN na COSAFA foi uma janela desperdiçada.
Teria sido a oportunidade perfeita para experimentar ideias, testar pernas e fortalecer o espírito competitivo. Mas optou-se pelo silêncio, pelo repouso de grande parte destes atletas, como se a competição viesse ao nosso ritmo.
E o futebol, todos sabem, não espera. Pedro Gonçalves, vê-se agora obrigado a montar uma equipa em duas semanas, com jogadores enferrujados e um calendário que não perdoa. Marrocos, Quénia, Zâmbia e RDC não vêm para cumprir calendário. Têm ritmo, têm preparação, têm continuidade.
Não basta convocar, vestir camisolas e rezar por milagres. É preciso antecipar, planificar, criar rotinas sustentáveis. O CHAN é uma competição de afirmação continental, não se pode encará-lo como um torneio entre “casados e solteiros”.
Angola tem talento, disso não há dúvida. Mas, sem uma preparação adequada, até os melhores artistas desafinam. O improviso até pode funcionar numa peça de teatro, mas no futebol internacional, é o caminho mais curto para a frustração. É hora de aprendermos que, para colher, é preciso semear e com antecedência. O CHAN é uma montra, sim, mas também uma arena.
E quem entra sem a devida preparação, corre o risco de ser apenas figurante num espetáculo que poderia, com melhor estratégia, tê-lo como protagonista. Angola tem áurea no futebol. O que lhe falta, muitas vezes, é a metodologia certa.
O CHAN exige mais do que vontade: exige visão e respeito pelos ciclos de preparação. Sem isso, corremos atrás do prejuízo, a cada edição, como se fosse sempre a primeira vez.
Por: Luís Caetano