Como diz o velho adágio: “Quando a cabeça não regula, é o corpo que paga”. Assim sucedeu com a detenção do humorista e integrante dos Tuneza, Cesalty Paulo, carinhosamente conhecido por “Tia Bolinha”, por alegado abuso sexual à filha adoptiva.
O artista foi colocado em liberdade, no passado dia 2 de Dezembro, pelo Ministério Público sob termo de identidade e residência. O vídeo feito com a esposa para justificar as alegações, traz à tona outras questões, entre as quais a seriedade da Polícia Nacional (PN). Noutro momento, os Tuneza, numa comunicação oficial, demarca-se de qualquer envolvimento, deixando claro que a situação está entregue às autoridades competentes.
As investigações continuam sob a égide da PN. Caso venha a comprovar a veracidade dos factos, o bom nome e todo o percurso construído ficarão comprometidos, afectando de forma profunda a percepção pública.
Entretanto, se as acusações se revelarem infundadas, que a esposa ou a vítima tenham agido em momento de descontrolo emocional, ainda assim a imagem do humorista sofre danos significativos, bem como da filha adoptiva que terá de conviver com essa cicatriz para o resto da vida.
Porque a simples associação do nome de Cesalty Paulo às alegações de abuso sexual acarretam sérios riscos para a sua reputação, com potencial impacto na gestão da carreira, na relação com marcas e na credibilidade junto de parceiros comerciais, bem como dos Tuneza e da própria esposa, Buderbala, por ingenuidade e má gestão da reputação, como um bem inegociável. Importa esclarecer que a reputação é o “casamento” entre os princípios defendidos e as acções praticadas.
Funciona como um “crédito de confiança” adquirido com consistência, reconhecimento e boa vontade acumulados ao longo do tempo. Quando esse crédito se perde, instala-se a desconfiança, a desvalorização e a estigmatização social.
A reputação é, também, o principal património de qualquer figura pública (indivíduo). Monitorar e analisar as consequências, a influência, os públicos de relacionamento e as percepções é essencial para fortalecer e preservar uma reputação positiva.
Já a cultura, a imagem, a comunicação assertiva e o nível de satisfação pública são factores preponderantes para impulsionar o desempenho reputacional, promovendo, consequentemente, a lealdade dos membros ou seguidores, com intuito de gerar pertencimento ou repulsa (quando mal gerida), provocando a reputação negativa.
A título de exemplo, o caso do actor norte-americano Jussie Smollett, da série Empire, é uma ilustração de como uma crise de imagem pode corroer rapidamente uma carreira. Depois de se comprovar, em 2019, que o ataque racista e homofóbico que havia sofrido, tinha sido por si orquestrado, com objectivo de aumentar a notoriedade e caché, Smollett viu a sua reputação desmoronar.
Como consequência, foi expulso da série, perdeu o apoio do público, perdeu contratos e espaço na indústria cinematográfica, muito antes de ser responsabilizado criminalmente. Outro caso que traz muitas lições é o de R. Kelly, considerado por muitos anos “rei do R&B”. Condenado em 2021, o artista procurou por anos desviar-se das acusações de abuso sexual, entre outras.
Mas, quando a situação se tornou insustentável, a partir de 2017, marcas, patrocinadores e parceiros afastaramse, contratos foram cancelados e as plataformas deixaram de promover suas músicas para evitar qualquer associação. Hoje, o antigo ícone do R&B é lembrado como uma figura tóxica, com a reputação irremediavelmente manchada, sendo um exemplo de figura pública que se aproveitou da fama e do poder para abusar e manipular. A percepção pública, uma vez afectada, é difícil de reverter.
Os dois casos mencionados demonstram que a reputação não depende exclusivamente da veracidade dos factos, mas da confiança previamente construída e da maneira como o público reage às impressões. Em crises de imagem, o julgamento do público é rápido em acontecer e o perdão é normalmente lento. Reconstruir a credibilidade pública exige tempo, transparência e consistência nas acções.
No caso em análise, Cesalty Paulo enfrenta uma das mais delicadas fases da sua carreira. A imagem da popular “Tia Bolinha” está exposta a cicatrizes profundas e, independentemente do encerramento, as consequências reputacionais poderão acompanhar o artista por muitos anos, pagando, assim, o alto preço de quando a cabeça não regula.
Por: OLÍVIO DOS SANTOS
Consultor de Comunicação Integrada








