Durante anos, naquelas fases em que a circulação de pessoas e bens era impossível, fruto das guerras e de outras dificuldades, houve sempre na cabeça de muitos angolanos a curiosidade sobre o que se dizia ‘Angola profunda’. A referida frase permitirá várias interpretações.
Desde políticas, económicas e sociais. Para muitos, poderia parecer aquelas parcelas do território angolano inacessíveis e, para outros, aquelas que, embora distantes, não se têm acesso aos mínimos serviços como a água, energia, saúde e até mesmo serviços administrativos. É indiscutível que hoje, por mais próximos que estejamos, existam várias realidades de uma mesma Angola.
Não só em termos físicos, como até emocionais, o que acaba sempre por levar alguns a descrever um país que não conhecem sequer. Passe o exagero, se assim podemos considerar. Há um ano que se alterou a divisão político- administrativa do país.
Das 18 províncias inicialmente existentes, acresceram três, perfazendo hoje um total de 21. Foi um processo criticado por muitos, mas também defendido por outros que também se batiam pela alteração do quadro anterior. Quase sempre me lembro do malogrado professor João Serôdio.
Através deste jornal, antes mesmo de o processo da actual Divisão Político- Administrativa ter avançado, defendia com exaustão a repartição da província do Moxico em duas ou mais, mencionando já Cazombo como a capital de uma delas.
Muitas das vezes, lendo ou ouvindo o que dizem muitos cidadãos sobre aquilo que se considera Angola Profunda, tem-se a sensação de que há quem não conheça até aquilo em que se bate incessantemente.
Não conhece as suas gentes, as suas realizações, os seus governantes, nem tão pouco as suas histórias. Mesmo existindo muito por se fazer, há igualmente inúmeras realizações que nos permitem hoje concluir que algumas regiões estão a se afastar rapidamente daquilo que se dizia ser: terras do fim do mundo ou então pertencerem a Angola mais do que profunda.
Há, em muitos casos, estradas, escolas, hospitais e até outras infra-estruturas, embora ainda em números que não satisfaçam a maioria dos seus populares e as suas necessidades.
Há, em muitos casos, factos que nem aqueles que se dizem defensores de certas questões os conhecem, o que não deixa de ser um grande contrassenso.
Por exemplo, no campo das infra-estruturas, assiste-se ao notável trabalho de reconstrução de estradas em muitas áreas do país, de Cabinda ao Cunene, do Mar ao Leste.
E é abominável ver gente que nunca sequer percorreu 50 quilómetros além de Luanda a criticar o que nunca sequer teve a oportunidade de observar.