Outro dia, sentei num banco de praça, desses cercados por árvores que ainda resistem à pressa das cidades. O calor era daqueles que derretem a lógica, então fiquei ali, sem fazer nada.
Foi quando vi a tartaruga. Sim, uma tartaruga. Não era de brinquedo, nem de desenho animado — era uma senhora tartaruga de verdade, com casco cheio de riscos e o olhar de quem já viu muita folha cair.
Caminhava com a elegância de quem sabe que tudo chega, um dia. De repente, ela parou, olhou pra mim (juro que olhou), e falou: — Você também anda tentando entender os jovens, né?
Quase engasguei com o vento.
— Como assim? — perguntei, rindo, achando que estava delirando com o calor. — Eles são como tempestades tentando se espelhar em lagos calmos. Querem tudo agora, e ao mesmo tempo querem paz.
Querem mudar o mundo, mas tropeçam nos próprios medos. Querem ser ouvidos, mas vivem gritando. Vocês, os adultos, tentam entender isso com pressa. Mas pressa é coisa que não serve pra isso.
Fiquei em silêncio. A tartaruga, então, continuou:
— O grande problema não está nos jovens. Está no tempo. Vocês querem respostas no tempo de um clique, mas eles estão lidando com questões que exigem silêncio, escuta, demora.
Querem salvar o planeta, mas não sabem se conseguem salvar a si mesmos. E quem pode culpá-los? Eu pensei nos adolescentes de olhar perdido, nos que dançam no TikTok como se a música fosse escudo, nos que desenham seus medos em paredes invisíveis.
Pensei nos que estão cansados, sem nunca terem descansado. — E o que eu faço? — perguntei. — Caminhe como eu — disse a tartaruga, voltando a andar devagarzinho. — E escute sem interromper.
Eles falam, só que às vezes não é com palavras. A tartaruga sumiu entre os arbustos da zona verde, deixando pra trás só um rastro de calma. Voltei pra casa um pouco mais devagar.
Desde então, quando vejo um jovem perdido no próprio silêncio, tento não oferecer conselhos. Ofereço tempo. Porque, como disse a tartaruga, entender os jovens não é resolver um problema. É acompanhar uma travessia.
Por: RIBAPTISTA