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A ambiência e as personagens em Mayombe

Jornal Opais por Jornal Opais
3 de Abril, 2023
Em Opinião
Tempo de Leitura: 4 mins de leitura
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O romance Mayombe se desenrola na floresta do Mayombe, em Cabinda, como o denuncia o título.

Neste imenso aglomerado de verde, rompido pelo rio Lombe que se estende ao longo da floresta densa, com chuva contínua, as lianas e os troncos caídos, as árvores enormes das quais pendem cipós grossos como cabos, que era agora penetrado pelos guerrilheiros que ousaram construir uma base dentro do deus-Mayombe sob abóbadas de ramos e folhas que cobriam as casas; os paus mortos com que se fizeram as paredes criaram raízes, agarraram-se à terra, tornando as cabanas em fortalezas  eis a ambiência.

Para Álvaro Lins, são três os elementos básicos de um romance: a acção, as personagens e a ambiência.

A acção é, obviamente, o desenrolar dos acontecimentos ou o simplesmente o enredo.

As personagens são, como se sabe, os seres “imaginários” que vivem neste microcosmo que é o romance.

A ambiência é o quadro psico-social em que se situam e vivem as personagens.

Outra característica de um grande romance é a tensão: entre a personagem e a sociedade e vice-versa ou a personagem consigo mesma.

É este conflito, que nos salta aos olhos e nos faz lembrar-se dos nossos próprios conflitos, que torna grande uma personagem grande, muitas vezes, não por ser digna de imitação, mas pela sua complexidade.

Serve como exemplo claro o Julien Sorel em O vermelho e o Negro, que passa o tempo todo se debatendo entre O Vermelho (o exército) e o Negro (o sacerdócio), qual caminho deveria seguir para mais rapidamente alcançar fortuna.

Podemos dizer o mesmo de Sem Medo: ex-seminarista, desistente do curso de economia em 1964, conhecedor da dialética marxista, mas abandonou tudo o que era e tinha inclusive Leli, para ingressar na guerra de libertação.

É confuso, dirão.

Mas não é assim mesmo que nós outros somos? Não vivemos entre o vermelho e o negro, entre a floresta e a cidade, entre o ser e o não ser?

Eis a questão! Deste modo, Sem Medo não é uma personagem lógica.

Personagens lógicas são personagens “tipos”, medíocres, que já se sabe desde a primeira página quais são os seus passos.

Sem Medo foge a esta regra.

Por isso mesmo, as personagens de um romance, como diz Álvaro Lins, não podem ser seres comuns, desde que têm uma história para ser contada ou apresentada.

Como pode alguém não “se ver” na Angola independente, não acreditar mesmo na construção do socialismo, mas ainda assim comandar um grupo que luta em nome desta ideologia?

Foi talvez por estas razões que se autodenominou a Esfinge, porque conserva em si mesmo um enigma que os guerrilheiros procuram desvendar, desde o Comissário ao Mundo Novo até Ondina.

Sobre Sem Medo ainda vale ressaltar que tem uma personalidade anarquista, às vezes manso e calculista, é um “veterano da guerra e dos homens”.

Como foi expulso do seminário por ter ameaçado agredir um padre branco que fazia alusões racistas, Sem Medo relembrava constantemente os elementos da tradição cristã, relacionando-os com os aspectos da revolução: o tronco sobre o qual se sentava com o Comissário para confissões chamava de Confessionário; quando Ondina negou comer por estar entre problemas chamou a isto de “atitude cristã”; confunde a moral revolucionária com a moral cristã; chama um partido de uma capela; compara o Paraíso dos revolucionários com o Paraíso cristão, tachandoos de abstractos.

E por não acreditar no marxismo como Mundo Novo acredita, considera-se um herético, como quem não acredita em Deus.

Ele mesmo diz que se não fosse revolucionário acabaria como escritor.

Eu, porém, me atrevo a dizer que se Sem Medo não fosse revolucionário seria um padre. Ondina é, pela complexidade, a outra grande personagem em Mayombe.

Quem a pode compreender?

Amava o Comissário, mas desejava profundamente viver experiências que o Comissário não lhe podia proporcionar é este o seu dilema.

Por isso que se deita com André, o responsável, e depois com Comandante Sem Medo, mas não porque os ama, não pelo homem em si, mas pelo facto de ser uma novidade.

Ondina é uma libertina, como ela mesma chega a se considerar.

Estudara uma boa parte do liceu e por isso o Comissário tinha diante dela um quê de inferioridade, achando que Ondina lhe fazia um favor.

Os demais guerrilheiros lutavam todos pela mesma causa, porém por razões diferentes e cada um com uma história diferente da do outro: Teoria deixou Manuela na Gabela com um filho seu no ventre, o Comissário abandou o pai pobre e camponês em Caxito, Milagre abandonou a família, Muatiânvua, o desenraizado, pescador, trocou o mar pela terra, Mundo Novo voltou da Europa politizado; era, como Sem Medo mesmo o chamava, um dogmático.

No entanto, nenhuma causa era superior a tal dita Moral Revolucionária.

Por isso que puniam um camarada por qualquer descumprimento do regulamento, sem nem apelar ao sentimento de amizade que se criava entre eles.

Pepetela faz também alusão aos conflitos tribais entre os kikongo e os kimbundo e os desenraizados, descrevendo na prática o conceito de “solidariedade tribal”.

No final, os guerrilheiros venceram a guerra, mas não venceram o deus Mayombe, porque “dentro de dias o Mayombe recuperaria o que os homens ousaram tirar-lhe”.

Sem Medo, deitado no chão da floresta, atingido por uma bala no ventre, seria em breve esquecido e consumido pela frialdade inorgânica da terra.

Assim é a história de Ogun, o Prometeu africano.

 

Por: ISMAEL CHIPULULO

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