Nesta entrevista concedida ao OPAÍS, via e-mail, o embaixador de Angola nos Estados Unidos da América, Agostinho Van-Dúnem, fala da relação entre os dois Estados, do equilíbrio do país no posicionamento com outras potências mundiais, onde sublinha que o objectivo de Angola não é escolher lados, mas sim escolher o que serve melhor os interesses do povo angolano, nomeadamente a paz, desenvolvimento, modernização e inclusão. Sobre o conflito que opõe a República Democrática do Congo e o Rwanda, que poderá culminar, este mês, com um acordo de paz mediado pelos EUA, o embaixador Van-Dúnem foi peremptório: A liderança do Presidente João Lourenço foi determinante na criação de espaços de diálogo entre Kinshasa e Kigali
Angola acabou de acolher a cimeira EUA–África. Que ganhos económicos se espera para o continente africano e para Angola em particular?
A 17.ª Cimeira de Negócios EUA– África, realizada em Luanda, representa um marco importante para as relações económicas entre os Estados Unidos e o continente africano. Para Angola, foi uma oportunidade para atrair investimentos concretos nos sectores da energia, transportes, agricultura e infraes- trutura digital. O evento consolidou a imagem de Angola como plataforma logística e comercial para a África Austral e reforçou o nosso papel como um parceiro confiável, com estabilidade e visão estratégica. Para o continente, os ganhos passam pelo fortalecimento de cadeias de valor regionais, transferência de tecnologia, mobilização de financiamento e maior inclusão das economias africanas nas redes globais de comércio e investimento.
Volta e meia surgem vozes dizendo que a Administração Trump não tem interesse no Corredor do Lobito, sendo apenas uma aposta do seu antecessor. Que esclarecimento se pode fazer?
O Corredor do Lobito é hoje um projecto geoestratégico com apoio bipartidário nos Estados Unidos. O interesse norte-americano vai além de uma administração específica — trata-se de um investimento estruturante inserido na iniciativa global PGII (Parceria para Infraestruturas e Investimento Global), da qual os EUA são parte. A Administração Trump tem reafirmado o seu apoio ao Corredor, reconhecendo o seu valor para a integração regional, o escoamento de recursos minerais críticos e o fortalecimento de parcerias no quadro da segurança energética e do comércio livre. Ainda na semana passada uma delegação da administração americana visitou o Lobito por conta deste projecto. Este é um projecto de longo prazo e de interesse partilhado, não de natureza partidária.
O Presidente Trump acaba de confirmar que vai convidar o Presidente João Lourenço para a cerimónia de cessação de hostilidades entre RDC e Ruanda. Que avaliação faz?
Este convite representa o reconhecimento internacional do papel construtivo e corajoso do Presidente João Lourenço na mediação da crise no leste da RDC. Angola tem defendido, com coerência e firmeza, soluções diplomáticas, regionais e sustentáveis para os conflitos na região dos Grandes Lagos. A liderança do Presidente João Lourenço foi determinante na cria-de espaços de diálogo entre Kinshasa e Kigali, e o envolvimento de Angola tem sido pautado pelo princípio da não ingerência e da busca da paz duradoura. O convite do Presidente Trump é uma prova de respeito e confiança no papel que Angola desempenha como actor de estabilidade em África.
POR:Rita Fernando
Leia mais em