Depois da sua estreia em 2013, o grupo teatral Elinga Teatro voltou a exibir a comédia “As Bondosas”, na Casa das Artes, em Luanda, durante três dias, de 11 a 13 do mês em curso, do roteirista brasileiro Ueliton Rocon, com a adaptação cenográfica e direccção artística do escritor e dramaturgo angolano José Mena Abrantes
O espectáculo, que durou cerca de uma hora e meia, reuniu em média cerca de 100 pessoas por dia, através de um elenco composto pela cantora e actriz Anabela Aya, que encarnou o personagem Angústia. A actriz e produtora Cláudia Púcuta esteve nas vestes de Astúcia, ao passo que Prudência chegou na voz da actriz e encenadora Sunny Dilage e, para terminar, Suicídio ganhou vida com Elvira Francisco, actriz e produtora.
A actriz Cláudia Púcuta explicou que a peça pretendia alertar sobre a hipocrisia social. “Fomos contratadas para cumprir uma função, mas acabamos por julgar e falar mal, nos esquecemos de que também temos segredos escondidos.
A peça mostra que ninguém é totalmente puro”, afirmou. Para a actriz, o regresso da peça foi desafiador, sobretudo por ter sido montada inicialmente em apenas 15 dias, em 2013. Desta vez, explicou, o processo foi facilitado pelo amadurecimento do elenco e pelo registo em vídeo dos ensaios antigos, que ajudou a recuperar intenções cénicas e movimentos de cena.
Já a actriz Sanny Dilage, que deu vida à personagem Prudência, destacou que o maior desafio foi manter o ritmo e a concentração ao longo do espectáculo. “Nós entramos em palco do princípio ao fim, sem entradas nem saídas.
É preciso estar sempre atenta às outras para que tudo funcione”, contou. Por outro lado, Elvira Francisco, que interpretou a personagem da falecida, revelou que foi uma honra integraro elenco da peça, uma vez que é a mais nova do grupo, e participou da peça pela primeira vez.
Apesar de ter uma participação breve, de acordo com Elvira, toda narrativa girou em torno da sua personagem. “Foi a primeira vez que me deitei num caixão em cena. No início senti receio e medo, mas acabou por ser uma experiência muito rica”, lembrou com um sorriso no rosto.
Três dias de euforia e impacto
Segundo o director executivo do grupo, Luís Carvalho, a decisão de realizar três dias consecutivos de exibição foi intencional e ousada, por constatar que, no país, os espectáculos teatrais costumam ter apenas um ou dois de permanência. “Nós queríamos quebrar esse ciclo e mostrar que é possível fazer diferente”, explicou.
Com 37 anos de existência, o Elinga Teatro tem uma forte tradição de produção contínua e realiza em média cerca de 380 espectáculos por ano. Ainda assim, segundo o director, esta temporada representou um desafio e, ao mesmo tempo, uma experiência positiva, por dialogar com um público diferente daquele que habitualmente frequenta a casa de espectáculos do grupo. A peça, prosseguiu, não foi pensada para grandes plateias, porém para um público mais restrito, que também pode fluir e reflectir a partir do teatro.
A narrativa
A peça é uma comédia que retrata a vida de três carpideiras cujo maior receio é verem-se um dia transformadas em estátuas de sal, como terá acontecido à mulher de Loth. As mesmas viajam com receio nos pensamentos no velório de uma jovem que se suicidou.
Agastadas com os seus trabalhos e inconformadas por ninguém reconhecer os seus méritos profissionais, as mulheres vão-se desviando das rezas para dar lugar a uma “fofoca pura”, acabando por deixar finalmente transparecer todos os segredos que escondiam do mundo e umas das outras.









