O extenso espaço expositivo do emblemático Palácio de Ferro, na baixa de Luanda, transformou-se num tesouro de antiguidades, ao acolher a magnífica exposição do artista plástico Horácio da Mesquita, com o título “Arquitectura Ancestral de Angola”
Quadros diversos de pintura em aguarela preenchem as paredes daquele recinto, transmitindo mensagens de locais e paisagens de vários pontos do país, muitos dos quais desaparecidos ou em vias de extinção, numa colecção constituída por 30 obras.
É um verdadeiro chamariz e apelo à preservação do nosso património, numa iniciativa na qual a Nossa Seguros, empresa detentora dos Direitos Autorais, reafirma o seu compromisso com a valorização da Cultura Nacional, com o investimento contínuo na arte, reconhecendoa como um Pilar essencial do desenvolvimento social. A mostra, que estará patente ao público até o dia 24 deste mês, no referido Espaço, ilustra a forma de viver por toda a Angola.
É um registo de referências que o artista considera estarem a perder-se, e muitos destes lugares só existem agora em fotografia, em representações visuais e, especialmente, na memória de quem neles viveu.
O autor da colecção, Horácio da Mesquita, em conversa com o OPAÍS, referiu que o presente trabalho foi executado com a técnica da aquarela, por ser suave e de rápida absorção, chegando a ser instantânea.
Realçou que tem trabalhado intensamente, nas últimas três décadas, com equipas de antropólogos, arqueólogos e historiadores, a Faculdade de Ciências, os museus Nacional de Antropologia, de História Natural, o Arquivo Histórico, e personalidades individuais, que no seu entender, foram fundamentais na catalogação dos mais de 200 selos dos Correios de Angola, nas duas séries de notas, na actual série de moedas que estão em circulação no país, incluindo duas séries de cartões telefónicos da Angola Telecom. Indagado quanto à temática do trabalho em referência, o artista referiu que foi executado por temáticas que têm como base os nossos traços identitários, durante os seus 70 anos.
Desaparecimento dos traços identitários Horácio da Mesquita recordou que tem presenciado nas últimas décadas o desaparecimento em todo o território nacional destes elementos que definem a nossa identidade cultural, uma vez que é desses sectores que se sobrevive. Salientou que entre os trabalhos que tem executados, consta a colecção sobre a Arquitectura Ancestral de Angola, que é transversal a todo o território nacional. “Esta exposição foi organizada pela Nossa Seguros, que ficou com os originais, salvaguardando os direitos autorais.
Decidi assim, com a minha prévia autorização, criar este evento em que está uma vasta equipa a trabalhar”, disse. Interpelado quanto ao actual momento das Artes no país, o artista considerou que o actual panorama apresenta-se pouco favorável, devido ao reduzido número de coleccionadores, angolanos e pouquíssimas empresas que adquirem os trabalhos.
Realçou que a maioria dos comerciantes é de confecções religiosas e rejeitam os nossos traços identitários, além dos asiáticos que não adquirem absolutamente nada.
“Todos estes factores levamme a preocupações e dedicarme ao registo, o mais organizado possível, em várias técnicas, dos elementos etnográficos nacionais”, realçou o artista, acrescentando que além desta colecção de aquarelas tem uma outra de desenhos a carvão com a temática “Instrumentos Sonoros Ancestrais de Angola”, exposto na Casa das Artes em Talatona.
Elevar aspectos culturais e económicos
Por sua vez, o director Provincial do Comércio, Dorivaldo Adão, convidado a comentar a exposição, destacou a importância do evento, devido ao seu carácter cultural e por ter sido realizado em Luanda, em geral, e em particular no Palácio de Ferro, detentor de uma história cultural muito grande. Referiu que a “Arquictetura Ancestral de Angola”, de Horácio da Mesquita, é uma actividade que nos honra a todos do ponto de vista cultural e económico e, desejando que a mesma ocorra conforme planeado.
Já o director Nacional da Cultura, Pedro Tchissanga, em representação do ministro da Cultura, Filipe Zau, disse sentir-se feliz por ser um homem de Cultura e poder testemunhar um momento muito particular, no âmbito das Artes Visuais e Plásticas.
O director admitiu que um dos grandes problemas de momento, reside no asseguramento das obras que saem do país para participarem em eventos internacionais e, aproveitando a presença do Conselho Executivo da Nossa Seguros, lançou o desafio.
Enquanto isso, o deputado Dino Matross, antigo companheiro de armas nas extintas Forças Armadas Populares de Libertação de Angola (FAPLA), abordado quanto à percepção que tem das obras exibidas, recordou que na altura em que trabalhavam juntos na Direcção Nacional, da qual foi Comissário Político, Horário da Mesquita, já demonstrava uma grande habilidade no domínio das artes.
Acolecção
Por sua vez, o presidente do Conselho de Administração da Nossa Seguros, empresa detentora dos direitos autorais da referida colecção, Alexandre Carreia, ao enaltecer os feitos do artista, referiu que as 30 obras reunidas no Emblemático Palácio de Ferro são vestígios de um modo de viver e de pensar que aos poucos se vai dissipando.