A preocupação foi manifestada ontem, durante o concerto realizado no espaço Prova D’Arte, no Miramar, em Luanda, que visou prestar um tributo àquele gigante da música angolana que há dez anos partiu entre os vivos.
Com idades entre os 19 e os 30 anos, as filhas do artista que cantou e encantou Angola e o mundo com sua brilhante voz expressaram gratidão à organização pelo gesto que visa honrar e recordar o legado deixado pelo pai, entretanto, não esconderam as dificuldades que vêm enfrentado desde a morte do artista.
Na qualidade de filha mais velha, Vissolela Correia, jovem de 30 anos de idade, revelou que a família não tem recursos suficientes para poder custear na plenitude a formação académica das suas irmãs mais novas, situação que a tem preocupado e colocado em risco o futuro das mesmas
“A nossa grande preocupação é preocupação das minhas irmãs. Uma está a terminar o ensino médio no curso de saúde e precisa de apoio para pagar o estágio e a outra está no segundo ano do ensino superior e também está com muita dificuldades para continuar a estudar por falta de apoio financeiro”, avançou a jovem entristecida.
Sem receio, avançou que tem abdicado dos seus próprios sonhos e anseios para ajudar a custear a formação das irmãs, mas não esconde que o fardo é pesado para si e sozinha não consegue dar resposta às necessidades de formação das suas irmãs.
Além das irmãs que enfrentam dificuldades para concluir a formação, Vissolela disse também que os seus irmãos não trabalham e que há muito tem batido portas para que os irmãos consigam um emprego digno para poderem ajudarse a si e ao sustento da família.
Nunca receberam verbas dos autorais do pai Questionada sobre a questão dos direitos autorais, a mesma fez saber que desde a morte do pai que a família não tem beneficiado de qualquer recurso proveniente pelo menos dos direitos autorais. Disse que já recorreram à União Nacional dos Artistas e Compositores- Sociedade de Autores (UNACSA) a fim de verem a situação resolvida, mas até ao momento, sem sucesso.
“Nós até já demos entrada de todos os documentos na UNAC, mas até hoje não recebemos nenhum feedback. Dez anos passaram-se e até agora não há nenhum sinal, nem na UNAC nem na Unitel, com quem tinha o meu pai contrato através dos serviços de espera”, desabafou.
Face ao cenário, Vissolela adiantou que a família pensa em recorrer aos órgãos judicias para beneficiar ao menos de verbas ligadas aos direitos autorais sendo que até aos dias actuais as músicas do seu pai tem tocado em vários pontos e eventos, mas sem qualquer retorno para os familiares.
Por sua vez, Josefa Correia, uma das filhas mais nova, lamentou a realidade que hoje estão a enfrentar e lançou um apelo às entidades ligadas ao sector cultural e não só para que as possam apoiam, espacialmente na conclusão das suas formações.
“O que mais precisamos é ajuda com os nossos estudos, pelo menos alguém de boa-fé que nos ajude com a formação para futuramente podermos ajudar a nossa mãe”, expressou a jovem de 19 anos, tentando conter a lágrima.
Sucessos do artista recordado com nostalgia
Resultante de uma iniciativa conjunta entre o espaço Prova D’Arte e grupo Edições Novembro, no âmbito do projecto cultural “Homenagens a Figuras da Cultura” o concerto, que arrancou por volta das 17 horas, foi protagonizado por jovens artistas intérpretes e contou com o suporte da Banda Sem Limites que juntos trouxeram a ribalta alguns dos grandes sucessos de Bangão.
Temas como “kakixaka”, “wa ya ye”, “garina do swegue”, e outros levaram o público a viajar no tempo e reviver as memórias do artista, com a pista de dança a se tornar a segunda maior atracção, após o palco.
Entre passadas cruzadas e retrocessos, com alguns toques improvisados, a dança fazia companhia aos ritmos que eram emanados pelos artistas intérpretes e pela banda Sem Limites que acertava em bom-tom a cada tema musical que era interpretado. Familiares, antigos colegas de carreira e fãs de Bangão prestigiaram o concerto que duas horas reviveu o legado do músico que conquistou Angola e mundo com sua brilhante voz e performance irreverente em palco.
Presente no concerto, o músico Dionísio Rocha recordou com nostalgia um dos momentos em que recebeu Bangão num conjunto musical em que dirigia e teve a oportunidade de ajudar a lapidar o seu talento enquanto era só um jovem promissor.
“O Bangão durante muito tempo, com o conjunto Ngingas ensaiavam no meu quintal, e naquela altura eu cheguei a conclusão que haviam partes técnicas que eu devia induzir o Bangão a melhorar a sua exibição.
Parecia não ser grande coisa, mas depois de uns dois anos, ele percebeu o resultado e viu que tinha crescido muito em relação e se tornado um grande artista”, recordou o músico e compositor.
Aproveitando o momento, Dionísio Rocha apelou a preservação do legado de Bangão e recomendou os mais jovens artistas a aprenderem com os mais velhos, ouvindo as suas músicas e bebendo dos seus conhecimentos.
No final as filhas agradeceram o gesto que consideraram ser uma honra e o testemunho de que “o legado de Bangão continua a ser um contributo importante na cultura angolana”.









