Os jogos tradicionais, que durante décadas animaram ruas, quintais e pátios escolares de jovens angolanos, já não se fazem sentir com a mesma força, empurrados para a margem pela força, também, das redes sociais e sedentarismo
A garrafinha, samacaca, “saltar a corda”, “mete e tira”, “pula na montanha”, “não te irrites”, kiela, entre tantas outras expressões lúdicas, marcaram gerações, mas hoje correm risco de desaparecer, deixando um vazio desportivo, cultural e social no crescimento de jovens angolanos.
Uma ronda da equipa de reportagem deste jornal por bairros da capital do país permitiu constatar que essas brincadeiras ainda existem, em bora de forma tímida, especialmente no Belo Monte, Petrangol, Bairro Uíge e São Pedro da Barra, em Luan da. Além disso, apenas uma modalidade (kiela) vai entrar em acção nos Jogos Africanos da Juventude, que decorrem em Luanda e no Bengo, o que reforça a urgência para a massificação dessa prática desportiva.
Os docentes, dirigentes e fazedores do desporto ouvidos por este diário consideraram que o resgate desses jogos exige, de facto, esforço conjunto das famílias, de escolas, de associações culturais, desportivas e políticas públicas sólidas que promovam a preservação e divulgação dessas práticas. Alertaram que a redução dessas brincadeiras tem afectado a socialização das crianças e coloca do em causa o desenvolvimento físico e cognitivo, elementos essenciais para a formação de cidadãos saudáveis.
Hoje, a maior parte das crianças, dos adolescentes e dos jovens está mais voltada para as redes sociais, promovendo o sedentarismo e aumentando a vulnerabilidade a diversas doenças.
Nesse contexto, os números de pessoas portadoras de doenças oculares devido à exposição excessiva à luz de telemóveis e computa dores têm crescido drasticamente, sem se poder ignorar o sedentarismo, que tem levado muitos jovens a desenvolver problemas cardiovasculares. Em outra vertente, os interlocutores referiram que o declínio dessas práticas tem contribuído para o aumento da taxa de criminalidade.
Não há dúvidas de que tanto as doenças quanto a taxa de criminalidade têm aumentado abruptamente devido à ausência de jogos que preenchiam os tempos livres dos jovens.
Em virtude disso, defenderam o resgate urgente desses jogos para ajudar a ocupar os jovens e a oferecer alternativas saudáveis. No âmbito escolar, a ausência de programas de educação física voltados para jogos tradicionais tem agravado o problema. Muitas instituições de ensino focam apenas em modalidades desportivas modernas, deixando de lado práticas culturais que ajudaram a formar gerações passadas.
Por: Kiameso Pedro









