A recente realização da primeira edição dos Prémios Kuduro Angola/2025 reacendeu as chamas da esperança e do optimismo para vários fazedores deste estilo musical, que, expectantes, almejam que iniciativas do género sejam realizadas mais vezes e com maior regularidade, podendo abranger todos os kuduristas dentro e fora da capital Luanda
O kuduro é um estilo musical que nasce na zona urbana, na década de 1990, por intermédio de Tony Amado, mas é nos guetos, nas periferias e zonas suburbanas de Luanda que o estilo ganha maior expressão, projecção e popularidade. Com a loucura de Sebem, a ousadia dos Lambas, o liricismo de BrunoM, a irreverência de Noite e Dia, os adoços de Fofandó e Puto Prata e a intervenção de outros “players”, o kuduro saiu do anonimato ao estrelato, do detestado e discriminado estilo musical para um dos mais popularizados e desejados estilos musicais que hoje Angola orgulhosamente ostenta no seu mosaico artístico cultural.
É a olhar para esta reviravolta que o estilo deu e no impacto que ele tem no cenário cultural nacional que vários kuduristas defendem que a respectiva arte precisa de ser mais respeitada e melhor valorizada. Chefe Andeloy, integrante do grupo Os Lambas e um dos maiores compositores da história do kuduro, afirma que o estilo já mostrou que tem peso e importância na cultura nacional e por isso merece ser tratado com o devido respeito.
“O Kuduro já mostrou que é o estilo mais consumido pelos angolanos, antes era muito descriminado, associado à delinquência, mas hoje já é diferente e é um, se não o estilo que mais eleva o nome de Angola nos palcos internacionais, então é preciso que seja mais respeitado e mais valorizado por todos”, defendeu o compositor.
Quem também compartilha da mesma visão é o artista Cleyton-M, que vai mais longe, acrescentando que é, acima de tudo, responsabilidade dos kuduristas fazer com que o estilo seja respeitado. Cleyton-M sublinha que é a postura do artista que vai influenciar na maneira como o seu trabalho vai ser visto ou tratado. Já Scró Que Cuia, um dos mais ouvidos kuduristas da actualidade, aponta para a melhoria dos trabalhos e para a união da classe como factores fundamentais para a valorização do estilo.
“Quando um trabalho é bem feito, não tem como as pessoas não valorizarem; tudo só depende de nós os próprios artistas. Se fizermos as coisas com responsabilidade, o estilo vai ser valorizado. Outra coisa que eu também aconselho aos meus colegas é que sejamos mais unidos”, apontou o artista.
Noite e Dia: a rainha do Kuduro
Numa noite dedicada a consagrar os Kuduristas que mais se destacaram entre 2024 e 2025, a artista Ana Bela, conhecida popularmente como Noite e Dia, viu mais uma vez a sua coroa de rainha a ser reforçada com mais um prémio. A artista foi eleita “Melhor Artista Feminina”, batendo na corrida as colegas de carreira Titica, Jéssica Pitbull, Poca-Py e Latina Queen. Ao falar para este jornal, Noite e Dia também destacou a necessidade de se valorizar cada vez mais o kuduro e os seus fazedores, tendo parabenizado a organização dos Prémios Kuduro Angola, que teve a iniciativa de dar um passo importante neste quesito.
A artista, que já conta com mais de 20 anos de estrada, recorda que o estilo passou por várias fases, enfrentou várias barreiras e obstáculos para hoje ser aceite nos grandes festivais nacionais e internacionais, e almeja que esta valorização seja reforçada. “São muitos anos de estrada, quem nos acompanha sabe que estamos a vir de longe, somos da era em que o kuduro era visto como um estilo de drogados e delinquentes, mas hoje, para estar num festival desta dimensão, é caso para dizer que o Kuduro venceu e vai continuar a vencer. Esperamos que estas iniciativas continuem a acontecer todos os anos”, expressou a artista.
Tal como ela, outra artista que também olha com optimismo para o desenvolvimento do estilo no cenário cultural nacional é a kudurista Titica, que, em declarações exclusivas a este jornal, considerou que Kuduro é actualmente o estilo que mais tem internacionalizado a cultura angolana. “Sabemos que o kuduro é um estilo ainda muito menosprezado na nossa sociedade, infelizmente, pese embora ele seja o estilo que (nos últimos anos) mais tem feito para a internacionalização da cultura angolana, mas ainda assim não é valorizado como outros estilos, mas nós, os artistas, estamos aqui a trabalhar duro e este prémio é uma grande motivação para nós”, disse a artista.
Mano Chaba honrado com prémios e homenagens
Durante o evento que reuniu mais de 50 artistas na noite de quintafeira, 04, no Club-S, em Luanda, várias figuras ligadas ao kuduro foram distinguidas, algumas com prémios e outras com certificados de mérito e homenagens. Na lista dos galardoados da noite estava o nome do “menino do Paraíso”.
O tema musical “regra do jogo” de Mano Chaba, com a participação de Deezy, foi eleito “Melhor Kuduro do Ano”. A escolha reforçou a popularidade e a grandeza do artista que, apesar de já não fazer parte do mundo dos vivos, continua a ser o protagonista de alguns grandes sucessos da praça musical nacional.
Para receber o prémio, um grupo de jovens liderado pelo artista Deezy subiu ao palco, onde dedicou o prémio à memória do artista falecido em Janeiro do corrente ano, vítima de afogamento, e o homenageou com gestos nostálgicos. Ainda em palco, o rapper Deezy cantou a mesma música premiada com a participação especial do público, que acompanhava cada trecho da canção em uníssono com bastante euforia.
“Esta é para ti, Super Star, foste um dos grandes artistas que esta Angola já teve o prazer de ter. Estarás sempre nos nossos corações”, expressou Deezy, tentando conter as lágrimas de emoção enquanto olhava para os céus.
Outros Premiados
Além de Noite e Dia e Mano Chaba, outros artistas também foram distinguidos durante a gala dos Prémios Kuduro Angola, cada um em diferentes categorias. Scró Que Cuia foi o vencedor do “Melhor Videoclipe do Ano”, com o tema “Vem dançar Kuduro”; Tshunami venceu a categoria “Artista Revelação”; John Trouble venceu a categoria de “Artista Masculino do Ano”, Sintonia 07 venceu a de “Melhor Dueto” e DJ Nelson Papoite venceu a categoria “Produtor do Ano”.
Realizado pela primeira vez, os Prémios Kuduro Angola são uma iniciativa do grupo empresarial cultural 2N Nation, em parceria com a Associação dos Kuduristas de Angola (AKA), com patrocínio oficial da Africell e outras empresas do sector privado e organizações do sector cultural.









