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Contos d’outros tempos: O perigoso triângulo amoroso entre Manuel, Fombita e Bebeco em vidas de ninguém (II)

Domingos Bento por Domingos Bento
28 de Novembro, 2025
Em Opinião

Se, para a velha Belita, a vida já não tinha muito para brilhar, do outro lado da rua a confusão tomava conta de todos os vizinhos que madrugavam para entender a maka que a Fombita arranjou no bairro. Ela era das mulheres mais lindas do bairro. Aos 26 anos de idade, deveria se casar com Bebeco, um jovem humilde, que ganhava a vida como enfermeiro, mas fugiu com o primo Manuel. Bebeco tinha muito amor para dar à Fombita, mas não tinha dinheiro.

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Já primo Manuel tinha, já na altura, um Lada de cor azul-escuro, chaparia amordaçada, pneus com jantes trocadas e que ficava mais parado do que em andamento. Mas quando o carro estivesse bem, ele dava show no bairro. Metia música alta, apesar da péssima qualidade do altifalante.

Mas, do muro, em que ficávamos o dia todo a sonhar futuros, conseguíamos ouvir os meninos dos SSP, Man-Ré, Os Kassaves e Proletário com o seu Scania 111. Mas a música que mais cativava a atenção de Fombita era Zazi, de Camargo e Luciano e Leandro e Leonardo. Manuel era ilusionista e dizia que amava Fombita.

Até a acompanhava à Praça dos Cabritos para comprar o saboroso cacusso, o nosso peixe das águas doces do Bengo. E lá aproveitavam para fazer as suas malandrices. Manuel então era amigo do Bebeco.

Cresceram juntos, brincaram às escondidas, bica-bidom, salalé três três, entre outras brincadeiras. Sempre foram muito unidos. Mas a beleza de Fombita dividiu os dois jovens que juraram amizade eterna.

Nem mesmo o velho Moisés, tio de Manuel, ficou satisfeito com a situação. É por isso que, por várias vezes, reunia a comunidade para repreender publicamente o namoro de Fombita com Manuel.

Mas os dois foram teimosos. Até que um dia fugiram juntos para um local incerto, deixando dor e pranto no coração de Bebeco. Devido a essa maka, que envergonhou gravemente o nosso bairro, o povo intercedeu à Santa Muxima e ao Jacaré Bangão, mas, mesmo assim, Manuel e Fombita se mandaram para bem longe da terra. Bebeco já não comia, só lamentava a dor que crescia a cada dia.

Ele até nem olhava para a Joaninha, que o consolava na esperança de ganhar o seu coração. Ela também era uma quarentona que nunca lhe piscaram. Diziam que era feiticeira, voava às noites. Todos acusavam, mas ninguém tinha prova.

Os miúdos do bairro só aguardavam o dia que ela caísse de vassoura para queimá-la em público. Os pneus e os sacos para fazer pelendoce já estavam guardados no quintal do Caterça, o mais nguibola do bairro.

O miúdo, de 14 anos de idade, tinha mais nguimbo do que qualquer outra coisa no corpo. Aliás, quando fizesse a curva do quintal do Tio Adão do Meikeby, o corpo já havia feito a esquina, mas o Nguimbo ainda continuava. Mas nesse nguimbo ele guardava todas as informações do bairro.

Aliás, era ele que via sempre a Fombita e o Manuel a se esfregarem no poste de betão que ficava à entrada da rua do Parlamento, bem juntinho à casa da Tia Gina. Enquanto varria a rua, com a vassoura de palitos, Tia Gina lamentava amargamente.

O bairro estava devastado. Porque, apesar da pobreza, aí sempre foi um lugar de caráter, ideias, união, amizade e espírito de família. Manuel nunca podia olhar a menina Fombita como esposa, mas sim, como cunhada. Porque ele e o Bebeco eram como irmãos — Com cachimbo no canto da boca, Avô Tetê comentava: — Culpado também é o Mano João da Casa Amarela.

Desde que ele mandou instalar uma tal de parabólica no jango grande, as nossas crianças e jovens perderam o juízo! Na altura, quando instalaram, disseram que era para nos informar sobre o que se passava na sociedade. Mas quando ligamos a televisão, só vemos mbundas, mulheres nuas, fofocas, intrigas, festas e outros insultos.

Ouvindo com atenção o desabafo de Avô Tetê, mano Kituxi, 76 anos, dentes amarelados, pele enrugada, cabelos brancos, questionou: — E disseram também que lá, na parabólica, tem um tal de Big Brother. É mesmo boa pessoa? Enquanto a conversa entre os mais velhos se desenrolava, sem sobressaltos, o pôr do sol ia descendo aos poucos. As galinhas se agrupavam ordeiramente para entrarem no galinheiro.

Também os miúdos juntavam-se uns aos outros para ouvirem as estórias. O pequeno sereno que molhava o chão, de terra batida, trazia consigo o cheiro fresco do mato. Mas nem com isso amenizava a agonia que sufocava Bebeco, que ainda mantinha a esperança de um dia rever o amor da sua vida, a Fombita, coisa que a velha Xica não gostava de ver, porque sabia do quanto era difícil esperar o amanhã que nunca chegava.

Enquanto via as horas a passar, avó Xica lembrava daquele tempo em que a única coisa que pedia do já falecido marido era o amor puro e o saudoso gelado do baleizão. No guarda-fato, ainda guardava, com muito orgulho, as saias travadas, as calças boca-de-sino e o vestido branco que pôs no dia mais feliz da sua vida, quando se casou com avô António. Que a terra lhe seja leve.

Quando saíam do Marçal para a baixa, iam de Maximbombo. Mas, à época, Ngonguita, a sua netinha, não queria andar a pé. Namorava com aqueles mais velhos sem juízo que a levam para cama por um cartão de saldo de 125 utt’s, que até nem dava para ligar para o primo Fonseca, que ainda vivia o fantasma do 27 de Maio, em Lisboa. Velha Xica nunca negou o seu pobre destino.

Mas Ngonguita, neta única, dizia sentir nojo da pobreza e dispara em todas as direções para alcançar a boa vida. Já foi amante do vizinho da rua de trás, já destruiu o lar da tia Teresa por andar com o marido dela, o Man Gaspar. Esse tipo que também não tinha juízo, mentia para a esposa que ia em missão de serviço, afinal ficava a namorar em Benguela com as morenas de lá.

Porque as de cá já haviam provado do seu veneno. Agora no bairro desconfiavam, então, que tinha SIDA. E Ngonguita não ouvia, foi lá mesmo pôr a colher. Sem receber nenhum tostão do Estado, pelo largo tempo de trabalho como lavadeira de um branco, em 1974, velha Xica sobrevive com os lucros da venda de farinha musseque na praça do Tunga Ngó. E só pensava no azar que qualquer dia a neta devia arranjar, porque toda gente já sabia que Ngonguita não se deixava; estava em todos caldos, só andava com os papoites, deixou de estudar para passar o dia nos dancings à procura de novos amantes.

Ngonguita ainda não tinha filhos, mas velha Xica lamentava pelas bofocadas xuxas que já estavam todas caídas, pareciam mamão podre. Quando acordava, nem lavava ainda as coisas. Despertava cedo e, com aquele traseiro que parece montanha, zongolava na casa da Marta, aquela amiga dela que também só gostava de mulatos. É por isso que lhe engravidaram e não foi assumida. Só trouxe mais uma boca para a mãe dela, tia Joana, que já anda lixada com a vida.

Eram agora oito bocas para sustentar e um marido alcoólatra que, quando bebia, falava à toa no bairro. Na sua cadeira, velha Xica ficava a pensar na Miúda que nunca trabalhou, mas andava com carros caros top de gama.

Lá em casa, de adobe, a mais velha já recebeu vários tipos de amantes da neta: magros, barrigudos, fininhos, ricos, brancos, pretos. Enfim, tudo! Já no outro dia o bairro dormiu em pânico porque Ngonguita deu uma festa em que o DJ pôs o volume no máximo. Velha Xica, que já sofria de tensão alta, teve de ser evacuada para o hospital porque a cabeça não suportou aquele enorme barulho.

No dia seguinte, o beco que dava acesso à casa acordou com cuecas no chão, garrafas vazias, entre outros objetos que testemunharam uma noite dos diabos. Os olhos húmidos da velha Xica não paravam de deitar as gotas de lágrimas que caiam de tristeza e vergonha.

Ela não gosta da vida que a neta está a levar. Mas não tem jeito, não tem saída. As suas mãos enrugadas já não têm forças para dar chineladas no rabo da menina que cresceu sem os pais, porque esses morreram nos confrontos de 1992. E o tio, que deveria aconselhar, é este que, desde que fugiu do 27 de Maio, não mais regressou.

Domingos Bento

Domingos Bento

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