Ser mulher em Angola, sobretudo mulher negra de carapinha dura, é enfrentar uma batalha silenciosa, diária e muitas vezes invisível, consubstanciada na luta por cuidar do próprio cabelo sem se render à avalanche de produtos químicos importados, que invadem as prateleiras dos supermercados e lojas de cosméticos, sustentados com as promessas de “domar”, “alisar” ou “transformar” aquilo que, na verdade, devia ser celebrado.
A verdade é que grande parte dos produtos capilares disponíveis no mercado angolano não foi concebida para o nosso tipo de cabelo. São artigos pensados para outros perfis estéticos, outras texturas, outras realidades. Muitas mulheres acabam expostas a químicos agressivos que enfraquecem o couro cabeludo, destroem a fibra capilar, causam queda, queimaduras e até problemas dermatológicos graves.
E tudo isso em nome de um ideal de beleza que não nos pertence. O mais preocupante é que, apesar de o país ter recursos naturais extraordinários e uma juventude criativa e empreendedora, continuamos dependentes de soluções externas.
Entretanto, nas comunidades, universidades e pequenos laboratórios artesanais, há jovens curiosos e dedicados a experimentar fórmulas novas, usando ingredientes como o mel, as sementes de múcua, a própria múcua, óleos naturais, e até o uso de liamba, com resultados que surpreendem pela eficácia e pelo baixo impacto químico.
A múcua, por exemplo, temos uma senhora, que agora não me vem o nome em mente, que produz shampoo e óleo capilar com este fruto, tendo lido uma entrevista desta investigadora onde diz que tal óleo, por exemplo, ajuda no crescimento do cabelo, para as pessoas com calvície, para além de combater a caspa.
Essas iniciativas demonstram que, se Angola investisse seriamente numa indústria transformadora de cosméticos e fortalecesse a formação biomédica, farmacêutica e biológica, poderíamos revolucionar o mercado capilar africano e produzir, com qualidade científica, aquilo que as nossas irmãs negras realmente precisam: produtos feitos por nós, para nós, para os nossos cabelos. Será como se estivéssemos a atingir a independência também.
Mais do que uma questão estética, trata-se de saúde pública, autoestima e empoderamento cultural. A carapinha dura não é um problema a ser resolvido, é uma identidade a ser nutrida. E cabe ao Estado, às universidades, ao sector privado e à sociedade reconhecer esse potencial económico e social que estamos a desperdiçar. Temos o talento, temos a matéria-prima, temos as necessidades claras.
Falta apenas transformar criatividade em indústria, ciência em desenvolvimento e orgulho em oportunidade. As mulheres angolanas merecem produtos que respeitem o seu cabelo e valorizem a sua beleza natural. E Angola merece acreditar no que é capaz de produzir. Nas nossas escolas tem umas tantas mulheres com ideias brilhantes, tenham só um pouco mais de paciência, vamos conseguir.
POR: Isabel Manuel Suli, orgulhosamente









