Uma vez mais a FNLA está mergulhada num problema interno que pode levar a uma crise sem precedentes. Tem sido assim ciclicamente, uma odisseia que vem desde os tempos da sua fundação e se vai agudizando mesmo com a alternância na sua direcção.
Desta vez, o actual presidente do partido dos ‘irmãos’, Nimi a Simbi, decidiu suspender o histórico Ngola Kabangu de toda actividade política.
Ao suspenso são apontadas acusações de que tenha proferido palavras menos abonatórias contra o actual timoneiro, uma posição que o então Delfim de Holden Roberto também já assumiu no passado.
Diferente de outras organizações políticas que conseguiram ultrapassar os seus fantasmas, a FNLA não tem conseguido se desfazer dos seus.
Antes mesmo de ter morrido, Holden Roberto viveu um dos maiores dramas, enfrentando uma liderança paralela, liderada por Lucas Benguy Ngonga, que se assumiu como o presidente durante largos anos, recebendo inclusive a bênção do poder político de então.
Para se ultrapassar o diferendo entre Holden e Ngonda, teve de se partir para um congresso da reconciliação, ocorrido na Filda, em Luanda, depois de aturadas negociações, em que intervieram figuras de proa da sociedade, como o reverendo Ntoni Nzinga e o jornalista Willian Tonet.
Num primeiro momento, foi celebrado o Acordo da Pensão Invicta, que posteriormente deu lugar a um outro mais solene, rubricado numa importante sala em Luanda.
Foram estes documentos que levaram o partido para o Congresso da Reconciliação, que acabou por criar, posteriormente, mais inimizades.
Preteriram-se as eleições, optou-se por uma fórmula: a GURN, que fez renascer em pouco tempo os mesmos dilemas que se esperavam ultrapassados entre os conversadores de Holden e os reformistas de Ngonda.
O fracasso da reunificação há mais de 20 anos ditou muitos dos problemas que ainda se assistem hoje. Não há liderança que não venha a ser questionada, e até mesmo não reconhecida por muitos.
E pior: em cada pleito, enquanto as lutas persistem, o partido de Holden Roberto vai assinando a sua sentença para o abismo. Que poderá acontecer em 2027 se se tiver em conta o número de votos perdidos ao longo dos anos e a fraca representação no parlamento.
Num país com enormes problemas, muitos dos quais exigem dos políticos consensos e bons exemplos, as clivagens na FNLA já começam a cheirar a alho.
E distante dos mais novos, parecem ser os problemas mal resolvidos entre os mais velhos no passado que não encontram uma solução. Talvez tenha chegado o momento de alguma geração Z dos irmãos assumir o leme, antes que seja tarde demais.