Dom José Manuel Imbamba, que dirigia, ontem, a missa especial no Santuário da Muxima, em celebração aos 50 anos da Independência Nacional, disse que Angola precisa de uma reconciliação verdadeira que cure as feridas do passado e permita construir um futuro em conjunto, de convívio harmonioso, de desenvolvimento sustentável e de justiça social
O presidente da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST), Dom José Manuel Imbamba, apelou, ontem, à Igreja a rezar pelas autoridades, porque delas depende a boa ordem da sociedade angolana. Segundo o prelado, que dirigia a missa especial no Santuário da Muxima, em celebração aos 50 anos da Independência Nacional, se as autoridades não cumprem bem o seu dever, a sociedade não poderá levar uma vida tranquila e pacífica.
Neste sentido, destacou que, para além de rezar pelas autoridades, os cristãos devem rezar por todos os homens e mulheres, bons e maus, pelos amigos e inimigos. Durante a homilia, que contou com a presença de várias entidades governamentais, políticas e da sociedade civil, Dom José Manuel Imbamba anunciou a realização, em Luanda, no próximo mês de Outubro, do Congresso Nacional da Reconciliação, sob o lema: “Eis que faço novas todas as coisas”.
Explicou que o Congresso Nacional da Reconciliação prevê, entre outros objectivos, o exame de consciência, a introspecção, a reflexão e a assunção de erros que desconfiguraram a estrutura social, cultural e familiar, por opções assumidas na condução dos destinos que levaram o país ao actual momento.
Disse que, nesta fase de reflexão, é solicitada a humildade necessária e a verdade libertadora, para que, com profunda abertura de coração, os cidadãos se coloquem sob o juízo da Nação e a auto-avaliação, para que se reconheçam como parte da autoria do passado que dita o presente, quer seja por acção, quer por omissão.
E, para o magno evento, o também arcebispo de Saurimo convidou a nação inteira a fazer parte do certame: “Vamos todos com as nossas alegrias e tristezas, com as nossas forças e fragilidades, com as nossas esperanças e desesperanças, com as nossas certezas e dúvidas e, sobretudo, com toda a nossa alma, inteligência e fé, para confirmarmos que é possível fazermos caminhos novos e construir novas realidades sociais, políticas, culturais, económicas, jurídicas e espirituais, para a nossa amada Nação, sob a qual nos estabelecemos como um povo, em busca da sua realização, como pessoas com a dignidade de filhos e filhas de Deus”, apelou.
De acordo ainda com o prelado católico, é possível fazer novas as relações pessoais, sociais e institucionais entre angolanos, tendo, igualmente, reconhecido a memória de todos os filhos e filhas de Angola que, de alma e corpo, protagonizaram os feitos heróicos que contribuíram para a aurora e o resplandecer do meio século de Independência que o país comemora no próximo dia 11 de Novembro — um tempo de graça e para o exame de consciência nacional.
Consolidar a paz e a reconciliação nacional
Para o presidente da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST), a Independência foi uma conquista, mas a paz e a reconciliação continuam a ser um projecto por consolidar. Neste sentido, apontou que é convicção da Igreja que a paz não se resume apenas à ausência de guerra.
Ela, frisou, é fruto da justiça, da verdade e da amizade social. “É por isso que o nosso país precisa de uma reconciliação verdadeira que cure as feridas do passado e nos permita construir um futuro em conjunto, de convívio harmonioso, de desenvolvimento sustentável e de justiça social”, defendeu.
Conforme ainda José Manuel Imbamba, a reconciliação só é possível com um verdadeiro diálogo e com uma cultura da humildade, da tolerância, da compreensão, da aceitação mútua e da inclusão — onde os discursos inflamados e antagónicos são substituídos por um compromisso nobre com o bem, o amor, a paz e com a dignidade da pessoa humana. “Somos chamados a ser agentes e testemunhas da paz e da reconciliação nacional”, apontou.
- Mensagem para a Igreja
Por outro lado, José Manuel Imbamba disse que, diante dos desafios actuais, a Igreja não pode enclausurar-se, acomodarse e fechar-se nos seus muros. “Devemos ser uma Igreja em saída, como nos pedia o Papa Francisco, que vai ao encontro de todas as periferias, ao encontro dos mais pobres e marginalizados, que está ao lado dos que sofrem e que se assume como consciência crítica da sociedade”, defendeu, tendo acrescentado ainda que “a nossa missão por conseguir é ser como tantos santos missionários incansáveis, como São João Paulo II, um peregrino da paz, que defendeu que a paz não é um sonho utópico — é possível. E como São Francisco de Assis, que continuamente clamava: Senhor, fazei de mim um instrumento da vossa paz”.