No mundo académico, entre várias fantasias, há uma particularmente curiosa: a crença de que basta ser formado numa especialidade ligada ao tratamento da palavra — como Língua Portuguesa, Literatura ou áreas afins — para que, automaticamente, sejas considerado mestre de cerimónias, apresentador ou exímio condutor do discurso em eventos sociais e académicos.
Independentemente da formação, muitos dos que possuem tal título alimentam, infelizmente, essa narrativa em benefício próprio. Ou seja, acreditam, de facto, ser especiais aos olhos da sociedade.
Já partilhei, noutra ocasião, que levei tempo a compreender que a licenciatura em Língua Portuguesa, por si só, não me conferia qualquer vantagem automática no domínio da língua.
Esse domínio só se constrói com esforço pessoal: aprender, cuidar e aperfeiçoar constantemente as nuances do discurso. Daí o espanto, para muitos, quando encontram alguém formado noutra área, mas que demonstra excelente dicção, discurso impecável e uma argumentação bem estruturada, enriquecida por recursos sintácticos variados. A presunção, contudo, é notória: aqueles que estudaram as áreas acima citadas são, muitas vezes, os primeiros a ser chamados.
Nas igrejas, solicitam-nos para anúncios e discursos; em casamentos, reservam-lhes a apresentação; nas escolas, sobretudo — ainda que isso esteja a mudar — entregam-lhes todas as actividades lectivas e não lectivas de carácter público.
Não se trata de negar que tais profissionais mereçam reconhecimento. O ponto central é a necessidade de desconstruir a ideia simplista de que ser “homem das letras” equivale, necessariamente, a dominar de forma irrepreensível a língua no seu uso social.
O verdadeiro domínio discursivo é fruto de prática, disciplina, dedicação e, sobretudo, da humildade em reconhecer que a língua exige constante aperfeiçoamento.
Por: GABRIEL CHINANGA