Soou o gongo. Uma vez mais, à semelhança de outras ocasiões, quando se anuncia a realização de um novo concurso público, independentemente da instituição, instala- se logo o frenesi em relação aos dias que se seguem.Nestas alturas, não há assunto que suplante este — não importando o local —, muitos são os que se manifestam quanto à procura de lugar.
Em primeiro lugar, fica por demais evidente a vontade de muitos jovens — e até mais velhos — entrarem no funcionalismo público, tido por muitos como o sector mais seguro para se encarar os desafios futuros, se comparado com o privado.
Tão logo se anuncie o arranque do concurso, a correria para as inscrições acaba por ultrapassar as expectativas, deixando, nalguns casos, em evidência um rácio diminuidíssimo entre o número de vagas e os inscritos, o que por vezes faz transparecer estar-se perante uma roleta da sorte. Seja na saúde, educação, justiça ou noutros sectores, avolumam-se também as jogadas de bastidores para que uns poucos, antes mesmo de enfrentarem o volume de inscritos, consigam ter acesso às vagas existentes.
Infelizmente, o frenesi que se vive mostra que o estado continua a ser, para muitos, a maior e melhor opção, quando, em economias de mercado, o ideal seria que estes postos de trabalho viessem do sector privado, o único que pode colmatar, de facto, as necessidades existentes em termos de empregabilidade.
Não há qualquer erro em se querer alistar nas fileiras das instituições do estado. Aliás, embora defenda que o privado devesse ser, nesta fase, aquele que mais poderia estar a empregar, também é indiscutível que a extensão dos serviços públicos fará com que, nos próximos tempos, mais concursos sejam abertos e mais jovens também acabem por ingressar.
Mas aqui é importante ressaltar que, mais do que o conforto das grandes cidades — onde muitas das instituições públicas deixam a desejar —, quem esteja a concorrer para as novas vagas tenha noção de que existe uma Angola distante dos prédios e das grandes avenidas que os aguarda.
Assim como se corre em busca de vagas, muitos, depois de entrarem — mesmo recebendo os subsídios de isolamento —, empreendem uma marcha em sentido inverso, buscando caminhos para que possam ser colocados nas grandes cidades, deixando as populações das áreas onde são inicialmente enviados completamente sós, sem serviços de saúde, educação, justiça e outros.
Claro que, em muitas cidades — ou até municípios agora criados —, faltem serviços básicos. Mas a função pública, em muitos casos, é um autêntico sacerdócio a que muitos se têm de doar. E seria muito importante que todos aqueles que neste momento se mostram interessados em concorrer pensassem nisso, não travando o caminho nem os lugares daqueles que, na verdade, se mostram efectivamente dispostos a servir Angola e os angolanos.