Serão poucos hoje os que se lembram do que foi o Saneamento Económico e Financeiro (SEF), que teve como principal impulsionador o economista José Cerqueira, dando assim os primeiros passos para aquilo que mais tarde viríamos a conhecer como economia de mercado.
Em contraponto com a economia planificada ou centralizada, típica dos países socialistas de então, o novo modelo que se pretendia para Angola respeitava a propriedade privada, reduzindo substancialmente a intervenção do Estado.
Desde a implementação do multipartidarismo, no início dos anos 90, Angola vai procurando trilhar caminhos em que o Estado deveria reduzir a sua influência, nem negociar consigo próprio, permitindo que este lugar fosse preenchido por empreendedores para acudir às várias áreas empresariais e criar postos de trabalho.
É ainda nos dias de hoje um grande desafio que, independentemente dos altos e baixos, é irreversível, não obstante as pretensões dos defensores de Adam Smith sobre a existência, sempre, de uma ‘mão invisível’. E, à medida que o tempo avança, é imperioso que a economia de mercado se afirme, possibilitando a entrada de capitais privados em diversos sectores, alguns dos quais vitais para o desenvolvimento do país.
Desde a sua implementação, revertendo a lógica socialista de então, vimos o surgimento de empresas em sectores que até então eram domínios absolutos do próprio Estado. E aos poucos, outros seguir-se-ão, não podendo constituir qualquer ameaça à soberania do país, nem tão pouco levantar celeumas em personalidades que se dizem abertas à economia de mercado, mas não olham com bons olhos a entrada de capitais privados na construção, por exemplo, de refinarias de petróleo.
Se antes o que muitos se questionavam era a inexistência de refinarias no país, que possam diminuir a dependência da importação de derivados de petróleo, a inauguração da Refinaria de Cabinda vai levantando em certos círculos uma discussão em torno do facto de o Estado ser somente detentor de 10 por cento e os restantes 90 da Gemcorp.
Infelizmente, até pretensos defensores da economia de mercado embarcam nestas críticas, como se não soubessem que hoje, no mundo, poucos são os Estados que constroem refinarias, sendo que, em África, por exemplo, são já vários os investidores privados que vão apostando neste segmento da refinação do crude.
O nigeriano Aliko Dangote é um dos mais vivos exemplos. À semelhança de Cabinda, cuja refinaria, inaugurada pelo Presidente da República, João Lourenço, começou a operar desde o passado dia 1 de Setembro, outras surgirão com a chancela de investidores privados, o que possibilitará a criação de mais postos de trabalho e o desenvolvimento das economias das regiões em que forem instaladas.
E Lobito, em Benguela, e Soyo, no Zaire, serão os próximos passos, se se tiver em conta os projectos existentes e os passos dados neste sentido. Longe estão os anos em que se vivia numa economia planificada, que obstava a que se pudesse investir em determinados sectores da vida social e económica de Angola.
E a economia de mercado não se improvisa. Vive-se. Por isso, bem haja aos capitais privados, desde que lícitos, sob pena de estes poderem ser desviados para outros mercados também carentes de investimentos.