São vários os dias em que vamos discutindo com alguns amigos a necessidade de se resgatar o sentimento patriótico que se teve há anos. Eram tempos penosos, sim.
Mas, ainda assim, sempre que surgisse divergências várias entre os angolanos, independentemente das guerras fratricidas, sentia-se no ar um clima de unanimidade e confiança em torno de um projecto comum que a todos ainda hoje interessa: Angola.
Nos últimos tempos, embora estejamos distantes daquela fase em que era importante não permitir que os yankees, hoje aliados, por exemplo, não colocassem as mãos em Angola, havia em todo o lado um sentimento de que se surgissem situações anómalas quase todos estariam interessados em se sacrificar pelo país.
É o que acontece em quase todos os estados onde os seus cidadãos respeitam os esforços empreendidos em prol da independência, o que não permite abrir mão de qualquer aceno ou tentativa que ponha em cheque as conquistas já alcançadas.
Aos poucos, se vai instalando, de forma até generalizada, uma espécie de estado de desconfiança, ou seja, onde tudo quanto se diz ao Estado e aos seus dignos representantes por parte de entidades estrangeiras deixa de ser constrangedor.
Pelo contrário, há por parte de muitos segmentos da sociedade, política, social e até económica, movimentos que apontam em sentido contrário, favoráveis a quem até aponte o dedo contra as principais figuras do Executivo angolano.
Há pouco tempo, recordamos, houve os pronunciamentos do político português André Ventura, líder do Chega, contra o Presidente da República, João Lourenço, em moldes que deveriam conferir a este um autêntico banho de repulsa, mas ainda assim houve vários movimentos, sobretudo políticos, que se preferiram posicionar ao lado deste polémico e xenófobo dirigente luso.
Cujo partido e responsáveis estão envolvidos em situações que não dignificam de modo algum qualquer oposição, como deputados que roubam malas, produção de fake news e até mesmo actos de pedofilia.
Mas, pronto, são questões portuguesas, assim como outras provenientes de demais países que nem por isso podem nos fazer perder as esperanças e o sentimento de pertença em relação a um país que vai completar nos próximos meses 50 anos de independência, alguns dos quais envolvidos nas mais profundas tramoias políticas, militares e sociais.
Rica em recursos minerais, o nosso país, à semelhança de outros tempos, nunca deixará de ser um palco em que apetências de diversas potências ainda tentarão colocar os seus tentáculos, embora hoje as acções não sejam tão visíveis como nos tempos em que muitos de nós eram confrontados com spots publicitários com os dizeres ‘Reagan, tire as mãos de Angola’.
Há que, por isso, sempre que necessário, ter cautela na avaliação dos factos ou fenómenos que nos surgem no dia- a-dia. Devendo merecer de cada um uma reflexão mais aprofundada antes de se emitir juízos de valor, na maioria das vezes até quando nem sequer se dispõe de muitos elementos que nos possam ajudar a contradizer, por simples prazer, algo que seja feito pelo Executivo.
Um áudio posto a circular há dias, cuja voz é atribuída ao analista e professor universitário Albino Pakissi, indicava, por exemplo, que este teria almoçado há algum tempo com os cidadãos russos apresentados como tendo estado tempos depois por detrás das escaramuças que ocorreram nos fatídicos dias 27, 28 e 29 em Luanda, na sequência da greve dos taxistas.
Conta, no áudio, o analista que estes diziam ter vindo a convite da embaixada da Rússia e que estavam interessados em sectores como os do turismo e agricultura.
Só que, quando depois de detidos, as informações que se passavam eram de que pretendiam abrir uma Casa de Cultura e patrocinar acções fora do mote inicial.
À medida que o tempo passa e as informações se vão compondo, também começam a surgir elementos que poderão permitir que cada angolano comece a perceber como se jogam as peças no actual xadrez político nacional e internacional. Sem necessidade de se instaurar um Estado de Desconfiança.