Mena não é um nome, é uma geração. Pediu 100 mil kwanzas como quem pede juízo a um país em chamas. A ideia era apenas assustar Jack, seu pretendente. Fazê-lo desistir, como muitos querem ver desistir um certo empregado. Mas Jack, tal como empregado, não desistiu, disse “espera só”, vou mostrar-te que esse teu alarido não me assusta. E ele, calmo, elaborou um plano.
Na quinta-feira, véspera do encontro, o inusitado ocorreu, Mena viu o telemóvel voar das mãos como sonhos os evaporam de uma certa juventude. No dia seguinte, sem forças, Mena vê Jack chegar em sua casa com um gesto messiânico e um pedido inesperado: – Dá-me o teu IBAN, pediu Jack.
Ela deu o IBAN e contou o que lhe tinha sucedido no dia anterior. Jack puxou-a para os seus braços e alisou o cabelo dela com seus dedos. – Vai ficar tudo, vamos dar um jeito. Após os valores reflectirem na tua conta passa lá em casa, amanhã às 14h, tenho algo para ti.
Jack foi embora e tempo depois os valores reflectiram na conta de Mena. – Moço bom, honrado. Prometeu e cumpriu, disse Mena antes de jogar as mãos ao comando da Tv. Ao trocar de canal, por engano, seleccionou o canal errado e neste viu o inusitado.
“Um grupo de funcionários de uma bomba de combustíveis decidiu subir o preço sem consultar o seu patrão, tal atitude provocou escândalo entre os habitantes da região, que decidiram sair às ruas com cartazes, apelando o bom senso dos funcionários que decidiram, sem consultar o patrão, apagar o fogo com gasolina”, disse a apresentadora, uma boneca animada com olhos de espanto.
“Ainda bem que não é aqui”, pensou Mena. No dia seguinte, antes das 14h, Mena preparou-se e jogou-se no táxi ao encontro de Jack. Durante o percurso recebeu a informação de que o preço do táxi subira devido o aumento do preço dos combustíveis. — Como assim 300? Perguntou Mena.
— A bonita não assiste televisão? Perguntou o gerente. — Assisti ontem… mas era um canal infantil. — Hoje é nos canais infantis que se conta a verdade. As coisas mudaram, bonita. Não fica distraída.
— Mas é mesmo só assim, não nos consultam e tomam essas decisões que afectam as nossas vidas? — Assim querias o quê, moça? — Que percebessem que nós somos parte da solução, que podemos propor soluções para evitar essas medidas que na teoria fazem sentido, mas, na prática, prejudicam a vida do cidadão. — Moça, pago só. Mena pagou o táxi e foi ao encontro de Jack. As 14h, mais uma vez foi surpreendida.
Jack ofereceu-lhe um telemóvel novo, duas versões inferiores ao seu telemóvel roubado. Sorriu, agradeceu, apaixonou-se e amaram-se, como nunca, como se do outro lado nenhum grupo clamasse, como se ninguém se manifestasse contra as novas medidas, como se ninguém chorasse por levar cassetadas e ver gás lacrimogéneo no rosto.
Amaram-se como se do outro lado não houvesse que exigia respeito e dignidade. Dias depois, o silêncio fez barulho, Mena notou um bloqueio. Suas chamadas foram barradas e seu coração escangalhado.
Enquanto bebia água para acalmar-se, as coisas foram se aclarando em sua mente até que percebeu que, ou seja, descobriu que o assalto fora encomendado. Jack vendeu o telemóvel dela, transferiu 100 mil, comprou outro telemóvel e ainda sobrou com um troco no bolso. Tal como Jack, outros prometem, fingem ajudar e depois… calam ou bloqueiam
Por: DITO BENEDITO