Sete anos depois de lançar o livro “Sua Excelência, de Corpo Presente”, Pepetela volta a brindar os leitores com uma nova obra literária de romance, intitulada “Tudo-Está-Ligado”, onde convida a uma viagem no tempo à cidade antiga de Benguela, revivendo a governança, hábitos e costumes dos povos do antigo Reino de Tchiaka
Com 361 páginas, o romance “Tudo-EstáLigado” foi publicado ontem, no Instituto Guimarães Rosa, em Luanda, numa cerimónia em que Pepetelas partilhou com o público a nostalgia de ter escrito uma história que, embora de um jeito fictício, geograficamente terá decorrido na sua terra natal, a cidade de Benguela.
Um livro em que o tempo e o espaço são elementos devidamente identificados e que convidam o leitor a uma contemplação imaginária às belas paisagens de Benguela, à ordem e bravura do reinado de Tchiaka, aos ritos e mitos sobre a aldeia de Ndombe grande, num misto de realidades e imaginações que ganham “vida” com a caneta de Pepetela.
Ao falar sobre a obra, no acto de lançamento, o autor não escondeu a nostalgia de poder contar, num romance “atípico”, a história de sua terra natal, que se mistura com a de um major reformado identificado no livro por “Major Jorge”, que aparece como protagonista da cena descrita na obra. Sem filtros, Pepetela expressou o entusiasmo de descrever a sua terra de berço num conto romântico e, ao mesmo tempo, histórico, com o qual espera contagiar os leitores com a mesma nostalgia com que compôs o livro.
“A obra é de certa forma uma homenagem à cidade onde eu nasci, onde passei os meus primeiros 17 anos de vida e que depois nunca mais tive a oportunidade de lá voltar a viver, pois as circunstâncias da vida já não me voltaram a permitir”, expressou o autor.
Questionado sobre a razão do título, o mesmo justificou que trata de uma forma de ver as coisas, ver o mundo e perceber que tudo que acontece á volta está, de um modo ou de outro, interligado ou inter-relacionado.
Na sua percepção, nada está completamente isolado, e, por mais que pareça só, as coisas e os acontecimentos têm uma interligação que às vezes transcende a compreensão de quem a observa.
“Tudo aquilo que se passa no mundo em que vivemos está interligado de alguma forma. Nada está completamente isolado, mesmo que parece estar.
Por tanto, tudo aquilo que acontece deve ser percebido de um modo global, perceber que pode ser resultado de uma acção anterior ou de alguma situação ocorrida anteriormente”, acrescentou.
Um convite à autonomia de consciência africana
Com a publicação do livro, o autor refere que espera poder despertar a consciência das pessoas, especialmente dos povos africanos, de um modo geral, para que olhem para si mesmas como a solução para a resolução dos seus conflitos, das suas aspirações e interesses.
Pepetela não escondeu que nas suas obras procura sempre reflectir os problemas que Angola, e África no geral enfrenta, narrando a história sobre antes, durante e após a era colonial, assim como da era actual, e os desafios que a sociedade angolana enfrenta nos dias presentes.
Manifestou que gostaria que os leitores retirassem alguma lição da sua ora e que a pudesse impulsioná-los a seguir em frente, enfrentar os seus desafiados com autonomia, responsabilidade e sem perderem a essência de quem são e de onde vieram.
Leitores expectantes para desfrutar a obra
Estiveram presentes na cerimônia de lançamentos dezenas de individualidades ligadas às artes, à literatura, diplomatas, catedráticos, membros da sociedade civil e diversas organizações literárias e ONG’s.
Entre os presentes no acto esteve o escritor, Lucas Cassule que, ao destacar as qualidades e particularidades da escrita de Pepetela, se mostrou ansioso para “descobrir” o universo imaginário que obra oferece aos leitores.
“Tratando-se de um Pepetela que já nos acostumou com obras de qualidade, quer do ponto de vista de construção da escrita, da narrativa, da semântica, e outros detalhes, então com certeza que é mais uma daquelas obras que vale a pena ler”, disse o também e director da Editora É Sobre Nós escritor.
Por se tratar de um romance em que o personagem principal é um major reformado, o livro despertou a atenção e a curiosidade do também general na reforma, Francisco Afonso, ex-comandante das Forças Áreas Nacional (FAN) que disse estar curioso para desfrutar a história e compreender como a solidão de um ex-combatente de guerra traz consigo elementos interessantes transformados em uma história de romance.
Já o escritor e dramaturgo Mena Abrantes, destacou por seu turno a “boa caneta” de Pepetela a quem considera ser um autor com uma visão profunda e reflexiva sobre o país e coim um jeito autêntico de contar as histórias desta nação.
“Espero que nesta obra me satisfaça como fez antes nas outras, porque ele traz sempre uma visão profunda do país, não só do tempo presente como também dos séculos passados”, destacou.
Sobre o autor
Artur Carlos Maurício Pestana dos Santos, de pseudónimo literário de Pepetela nasceu a 29 de Outubro de 1941 em Benguela. Escritor, crítico literário e filósofo de formação, é um dos mais conceituados autores da literatura angolana.
Suas obras reflectem sobre a história contemporânea de Angola, e os problemas que a sociedade actual enfrenta. Com dezenas de livros já publicados, sua última obra de romance “Sua excelência de corpo presente” foi lançado em Setembro de 2018, no Instituto Camões, em Luanda.