Pedro Ngalã é apologista da construção de mais projectos da dimensão do Cafú, no Cunene, em províncias com potenciais hídricos, de modo a garantir mais água para o gado e irrigação de campos agrícolas e, deste modo, colmatar o défice de água verificado, fundamentalmente, em período seco. Em entrevista exclusiva recente ao Jornal OPAÍS, em Benguela, o empresário agropecuário voltou a colocar acento tónico na questão relativa ao acesso aos créditos, que, na sua opinião, continua difícil a sua obtenção para os homens do campo
Pedro Ngalã não tem dúvidas de que a população animal do país, estimada em milhões de cabeças, já é capaz de conferir ao país a tão propalada auto-suficiência na produção de carne.
Porém, para a materialização de tal desiderato, defende, de resto, investimentos em algumas infra-estruturas, com destaque para bebedouros para o gado.
Na visão desse homem do campo e pecuarista, em Angola os animais têm percorrido muitas distâncias em busca de água, um facto que, em certa medida, compromete a qualidade da carne. «É necessário que essa área tenha um apoio significativo», sugere o pecuarista.
De acordo com o também agricultor, para que se tenha uma agricultura que melhor corresponda aos desafios da cesta básica, afigurase como que essencial olhar para a questão da mecanização, ao acrescentar que a agricultura não pode estar «refém» da chuva, há que investir em infra-estruturas que garantam auto-suficiência no que se refere ao abastecimento de água. «Porque água não está no céu.
Água está na terra». De modo que tenha enaltecido o projecto do Cafú, de iniciativa presidencial, que, hoje, serve para o gado e fomentar a agricultura.
Em virtude disso, defende que projectos dessa natureza deviam ser replicados em províncias com potenciais hídricos, para «correr» com a falta de água, naqueles períodos de escassez de chuva. «No sul, no leste e em todo o canto onde houver rios.
É um projecto de admiração», considera, ao referir que, com quatro projectos daquela dimensão em Angola, «o país sai a ganhar.
Em tudo. Ganha a população no seu consumo do dia-adia, ganham os animais e os agricultores para irrigar os campos», frisou.
A única coisa que, na óptica dele, está a faltar para que haja mais Cafú é investimento. Empresário quer que Governo volte a abrir os cordões à bolsa e retire mais milhões de dólares para replicar.
Desperdício de água: Governo sem estratégia de aproveitamento
Considera inconcebível o facto de enormes quantidades de água do rio Cavaco, em Benguela, irem parar ao mar, sem que, no entanto, se faça um melhor aproveitamento do líquido.
Ngalã é defensor da construção de reservatórios de água. Aliás, em relação a isso, o então governador de Benguela, Rui Falcão, já tinha – variadíssimas vezes – feito ecoar a sua voz «no deserto do Governo Central» para disponibilização de recursos financeiros visando a construção de reservatórios, mas não foi bem-sucedido.
Segundo o empresário, ao longo dos rios Cavaco, Catumbela, Cuanza e Longa, o Governo devia instalar reservatórios de água para colmatar algum défice que se tem verificado em período de seca.
Neste particular, o empresário chama para a mesa de conversa o ministro da Energia e Águas, João Baptista Borges, sobre cujo pelouro recaem grandes responsabilidades.
«O Estado tem que fazer um estudo profundo, para que se desviem estes rios e a água seja consumível para o investimento na agricultura. Lamentamos que, quer o Cavaco, quer a Catumbela, despejem água para o mar. É um desperdício», manifesta.
«É preciso investimento. O Estado tem que apoiar o empresariado, as propostas têm que entrar nas bancas comerciais», vincou.
Como pecuarista e agricultor, Pedro Ngalã lamenta que, volta-emeia, «chore» junto da banca comercial crédito para o fomento à produção de alimento, mas que não tem sido «ouvido», daí ter depositado confiança em Isaac dos Anjos como ministro, por ser, como disse, «um homem de de visão» que conhece as principais dificuldades do campo, não fosse ele engenheiro agrónomo.
«Os bancos seguem orientações do BDA. O BDA é um órgão do Estado de onde saem as leis, as orientações. E os bancos devem fazer o cumprimento das orientações e a classe empresarial é aconselhada a fazer aquilo que deve ser. E nós sairemos a ganhar.
É necessário que o Governo, sem o sector privado, sem agricultura, sem a indústria, o país nunca desenvolve», adverte.
Por: Constantino Eduardo, em Benguela