A direcção do Centro Especializado de Tratamento de Endemias e Pandemias (CETEP), vulgo Hospital do Calumbo, admitiu que a invocação de negligência médica à volta da morte da cidadã Neusa do Nascimento constitui um alerta para a necessidade de se melhorar a comunicação naquela unidade sanitária
Em resposta à denúncia de Victória Borges, alegando que o passamento físico da sua filha foi por falta de atendimento adequado, o director clínico do CETEP, Damião Victoriano, em entrevista exclusiva ao jornal OPAÍS, referiu que, nesses termos, fica aberta a possibilidade de existência de casos semelhantes, que, por alguma ineficácia na comunicação, não chegaram ao hospital. “Se tem essa reclamação, é por- que há outros anónimos que não reclamaram e, para nós, nos alerta que temos de melhorar o fluxo, melhorar a comunicação.
Temos de trabalhar neste aspecto”, admitiu. No entanto, o responsável contrariou as afirmações de que o hospital não terá prestado assistência à cidadã, através da apresentação de um processo, no qual indica a medicação que foi administrada à Neusa do Nascimento entre os dias 4 e 5 de Março, durante a sua passagem pela unidade. O médico exibiu um raio X do tórax, no qual, explicou, é vista uma inflamação na base do pulmão direito da paciente, o que traduz a existência de infecção. Damião Victoriano considerou grave a situação por conta dos resulta- dos obtidos através dos exames de sangue. “Ela tinha dois por campo de paludismo. Nos exames de sangue, por exemplo, os glóbulos brancos, que definem a nossa imunidade, o valor vai de quatro a dez mil.
[Mas, o da paciente] estava a 25 mil”, explicou, acrescentando que esta quantidade de células informa que a doente está com uma infecção grave. Por outro lado, descreveu ainda que o estado de respiração da paciente não exigia que fosse submetida à entubação, por isso foram-lhe aplicados antibióticos, como a azitromicina e a ceftriaxona, no sentido de evitar que a infecção se alastrasse no pulmão. “Por isso, administramos antibióticos e um dos quais é a ceftriaxona. Então, significa que, só por esta lesão no pulmão e pelos glóbulos brancos muito eleva- dos, é critério de gravidade”, disse, sublinhando que, apesar da gravidade, “o processo mostra que foi feita a medicação, a doente não deixou de ser vista”.
“Quando uma reclamação chega depois de morto, isso dói-me”
O director clínico considerou incompreensível o facto de os familiares que estiveram a acompanhar a paciente não terem apre- sentado as alegadas faltas de assistências ao hospital que, disse, dispõe de vários médicos e enfermeiros, além de um Gabinete do Utente, no Banco de Urgência. “Quando uma reclamação chega depois de morto, isso dói-me ainda mais, porque nós estamos aqui, todos os dias, a trabalhar e a cumprir a nossa missão”, suspirou. Para o responsável, é necessário que se denunciem as ocorrências no momento em que estiverem a acontecer, e que podem fazê-lo, inclusive, nos gabinetes dos directores, que, por orientação do director geral, “não podem estar fechados”.
No entanto, referiu que não acredita que a reclamação não terá sido feita por falta de profissionais a circularam no CETEP, pois, justificou, é quase impossível que a uma secção com mais de 100 doentes interna- dos não tenha algum médico para prestar qualquer esclarecimento. “Não tem como ficar duas a três horas sem ter ninguém. É falso. Isso não posso aceitar. Nas enferma- rias tem, no mínimo, 10 enfermeiros. Por isso, digo, não tem como ficar três horas sem médico nem enfermeiro”, defendeu.
Médicos vão ser reforçados sobre forma de tratar os doentes
O director clínico admitiu ser necessário trabalhar mais com na sua equipa de médicos, no sentido de se melhorar a maneira de tratamento oferecido aos doentes e aos seus acompanhantes. O facto surge depois de o responsável ser questionado sobre a suposta atitude do médico que terá anunciado a morte da cidadã Neusa do Nas- cimento, quando a sua mãe se encontrava em pé, na sala desses profissionais. Por outro lado, a causa dessa medida é também o facto de a paciente quase cair ao meio da estrada, depois de uma médica orienta-la a fazer exames sem que, antes, disponibilizasse uma cadeira de rodas para ajudar a mobilidade. “Nesse quesito, vamos reforçar a equipa sobre os cuidados aos doentes que têm critérios de internamento. Nós chamamos atenção que têm de ser levados em cadeiras de rodas”, asseverou.